Bolívia – Pobrezas Vs Belezas

Santa Cruz de la Sierra

Chegamos em Santa Cruz e já sentimos o impacto tecnológico, primeiro na alfândega, onde a fila para conferir o passaporte era grande e só tinham 2 guichês com procedimentos totalmente manuais. Ao longo da viagem esse foi um ponto que foi notado diversas vezes, como se voltássemos uns 10, 20 anos e revisitássemos a boa e velha burocracia, com pouco uso de tecnologia que nos dias de hoje está se tornando essencial em prol da agilidade e conforto. De qualquer forma, passamos pela policia sem problemas, trocamos U$ por BOBs (bolivianos) e fomos procurar um táxi na saída do aeroporto.


O táxi e a viagem ao hostel serviram para mergulharmos de vez na Bolívia, o táxi tinha uma cadeira de praia no lugar do banco do motorista e, assim como a maioria dos táxis por lá (90% Toyotas), não tinham cinto de segurança nem funcionalidade do painel. Durante a viagem o motorista conseguiu ao mesmo tempo quebrar todas as regras de trânsito, sejam elas andar na contra-mão, ultrapassagem proibida, acima da velocidade, entre outras. A paisagem era um pouco árida, onde muitos terrenos e pixações políticas mencionando o Evo estavam presentes, uma área periférica de Santa Cruz, que por fim foi por nós eleita a São Paulo boliviana devido ao seu desenvolvimento, nível dos bares e comércio mais evoluídos em comparação às cidades vizinhas onde o esquema era roots.

Foto no início do post: Catedral Metropolitana.

Chegando no hostel Loro Loco, jogamos as malas no quarto e fomos para o centro em direçao à Plaza da Catedral Metropolitana para comer algo, não poderíamos perder tempo porque só tínhamos 1 dia lá nesse cronograma maluco onde não considerávamos dormir com frequência, o que foi altamente apreciado pelo Vinicius :). A praça era agradável, muitas pessoas e pombas ao redor, comemos num lugar legal à esquerda da Catedral que tinha vista para a praça e depois conseguimos ainda visitar uma feirinha de artigos diversos com um palco pequeno onde rolava umas apresentações musicais escolares.

Plaza da Catedral Metropolitana.

Demos umas voltas pelo centro e também encontramos uma exposição de geografia onde haviam muitos mapas com as delimitações da Bolívia ao longo dos séculos. Depois voltamos ao hostel para tomar banho e partir para a balada chamada Duda, indicada pela hostess local. Antes de sair, o Vinicius aproveitou que uma galera se reunía no quintal do hostel munidos com pinga e limão e mostrou porque veio, fazendo uma caipirinha bastante tupiniquim.


Chegamos na Duda de táxi, que era o melhor meio de se locomover por lá. A entrada era somente uma porta escura mas que levava para uma área superior bem interessante com sofás, decoração bastante latina e cervejas diversas. As pessoas no lugar também estavam bem vestidas, provavelmente um lugar de classe média pois eram distintas das pessoas com vestimentas mais tradicionais que havíamos visto pelo centro até então, as famosas Cholitas!Papo estava muito bom mas voltamos para o hostel e “dormimos” por 2 horas para pegar o vôo na manhã seguinte no mesmo aeroporto, indo agora para Sucre.

Mapa do centro de Santa Cruz de la Sierra

Eu e o Vinicius na Catedral em Santa Cruz.

Sucre

Sucre fica mais ao Sul de Santa Cruz e quando chegamos no aeroporto tivemos a impressão de estar pousando num campinho de futebol de terra amarela amador que costuma ficar no topo dos morros da periferia brazuca, porém esse campinho de várzea era de concreto.

Arredores do aeroporto em Sucre.

Mapa de Sucre

Cidade Branca.

Mochila nas costas, pulamos num táxi e fomos sentido rodoviária da cidade. Sucre é uma cidade a la Minas Gerais, com bastante montanhas e ladeiras. A cidade é considerada a capital constitucional da Bolívia embora La Paz seja oficialmente a sede do governo desde o final do século XIX. Por esse mesmo motivo a cidade tem uma presença histórica que pode ser confirmada pela quantidade de museus e prédios majestosos, a impressão que se tem da cidade ao observá-la de um ponto mais alto é de um mar branco pois a maioria dos prédios são realmente pintados desta cor, ao contrário de La Paz que já passava a impressão de uma cidade marrom. Caso tenha mais tempo, é válido visitar o Cal Orcko, parque arqueológico de dinossauros.

Muy Blanca.

Sucre foi a cidade onde conhecemos nossos amigos, os “brasileiros” como eu e o Vinicius apelidamos um casal pouco simpático que estava curtindo as férias por um roteiro similar ao nosso. Eles nos acompanharam até San Pedro de Atacama quando, para a infelicidade do Vinicius, cortaram laços mochileiros com nós e seguiram seu rumo.
Na rodoviária, deixamos nossas malas numa espécie de “locker”, as malas eram jogadas numas prateleiras de madeira entre outras dezenas que já estavam lá. A garantia era um papelzinho e a segurança feita pela moça do locker, haja coração meu amigo!


Tínhamos só um dia em Sucre e por isso praticamente ficamos caminhando pelo centro, sentindo um pouco o clima da cidade, como era Domingo os eventos naturalmente eram limitados. Fomos até a Plaza 25 de Mayo, onde encontramos a Catedral Metropolitana e o Museu de História Natural, que estavam fechados. Depois de umas fotos e de curtir uma filmagem de uma banda local com um playback descarado no centro da Plaza, fomos comer num local bastante interessante com comida típica e preço justo chamado JoyRide, indicado pelo Trip Advisor.


Barriga cheia, morro acima. Fomos com os brasileiros para o topo da cidade onde encontramos pequenos artesãos e um bar com vista para a cidade e uma banda local fazendo um som ao vivo.Ali curtimos o pôr do sol e a tranquilidade da cidade, acho que finalmente a ficha da viagem havia caído. Após essa espreguiçada, pegamos um táxi de volta para  a rodoviária e começamos a analisar a melhor forma de ir para Potosi, próxima parada. Finalmente concluímos que a melhor opção era o bom e velho busão.

De boa, e a ficha cai.
Mirante e bar em Sucre.

Aqui vale mais umas notas em relação ao transporte boliviano, os ônibus são bastante sujos, não tem lugar definido e a passagem normalmente é um papelzinho escrito à mão. Ao longo da viagem eles param em vários pontos imaginários, beira de estrada e fim de mundo,  portanto fiquem sempre espertos nas malas em cada parada. Eu e o Vinicius estávamos sempre olhando para fora nas paradas para ter certeza que nossas malas continuariam no bagageiro. Outro ponto importante é em relação às bagagens de mão pois ouvimos muitos relatos ao longo da viagem de mochileiros que tiveram suas bagagens furtadas. A dica é sempre levar a bagagem de mão no colo, abraçar se possível e ficar sempre esperto.Respiramos fundo e entramos no ônibus rumo a Potosi.

Esse é Roots.

Potosi

Antes de chegar em Potosi tivemos a primeira forte emoção da viagem, infelizmente não tão boa. Após aproximadamente 40 minutos de viagem o nosso ônibus bateu de frente com um táxi. Apenas sentimos um tranco leve mas o táxi ficou bastante avariado. Novamente um comentário sobre a segurança na estrada, como eu disse acima o uso do cinto é raro e os taxistas não respeitam as leis de trânsito, ultrapassando em todo e qualquer lugar.

Quando forem viajar distâncias grandes ou entre cidades desses países é altamente recomendado não ir de taxi!

Tiago Melito


Chegamos em Potosi, a situação naquele momento era mais ou menos a seguinte: 3am, beira de uma estrada de terra, escuridão, posto de gasolina abandonado, frio de 10C,  quatro pessoas com espirito mochileiro buscando soluções, mapas de papel na mão de pouca ajuda, Vinicius acessando um mapa no celular, táxi salvador passando milagrosamente numa rua próxima. 

Plaza 11 de Noviembre.

Entramos no táxi e fomos para o hostel La Casona. No caminho nos deparamos com um tipo de festival de rua, podendo até arriscar uma comparação com um carnavalzinho de rua, porém longe daqueles vistos em Muzambinho ou Ouro Preto – MG. Como o cansaço psicológico era grande por causa do acidente, acabamos dando uma de velhotes e dormimos, além disso estava muito frio nessa noite e a animação para sair no carnavalzão não era muito grande.No outro dia, agora em segurança, tomamos o café da manhã exclusivo visto ao longo de toda a viagem: pão, geléia e chá. Saímos para caminhar.

Vista do Mirador da Iglesia de San Francisco.

Mapa de Potosi
Potosi é uma das cidades mais altas do mundo, com quase 4000m de altitude, famosa pelas suas minas de prata onde trabalharam os primeiros escravos quechua na época colonial. De qualquer ponto da cidade é possível ver o icônico monte Cerro Rico, em sua forma de pirâmide apontando firmemente para o céu. Lá é um dos locais onde são feitos os passeios para dentro das minas. A cidade também possui um museu, casa da moeda (Casa de la Moneda) e um mercado municipal famoso por suas roupas de frio baratas.

Vinicius estava arisco portanto saímos para tirar algumas fotos. Primeiramente mais uma Plaza, agora a 10 de Noviembre e depois fomos até o mercado municipal. Ao longo do caminho vimos alguns barzinhos, o que despertou a vontade de estar lá num final de semana. Este foi um dos poucos desejos não atendidos na viagem já que para pessoas que buscavam um pouco de vida noturna e socialização, estas pequenas cidades só deveriam encher os olhos dos notívagos nos finais de semana.

Mas como ainda tínhamos muito pela frente não desanimamos e continuamos a tocar o barco. No mercado foi possível ver de tudo, desde adolescentes jogando Totó com jogadores uniformizados de times europeus até carnes vendidas a céu aberto. Imaginávamos qual seria o segredo ou qual era o tempero milagroso que as mantinham conservadas sem refrigeração, seria a imunidade natural das carnes de llama ou paca?! Tenso, porém com muito sal elas devem permanecer conservadas até o consumo.

Totó.

Após esta experiência não muito agradável com as carnes místicas, é óbvio que fomos fazer algo inteligente e sensato para limpar essas lembranças, comer! Após muitas idas e vindas pelos butecos locais de Potosi acabamos almoçando num restaurante próximo a Plaza. Para chegar nessa conclusão consideramos que nosso estômago ainda teria um árduo caminho pela frente e deixaríamos as experiências gastronómicas mais intensas para o final da viagem. Os brasileiros, é claro, estavam conosco nesse momento e a partir daí começamos a fazer piadas que eles sempre estariam ao nosso lado até o fim da viagem, com ou sem a nossa aprovação!


Para fechar Potosi fomos até o Mirador na Iglesia San Francisco, de onde era possível ter uma vista privilegiada do monte e da cidade em si, que era bastante simples porém continha uma certa energia, talvez pelo local de altitude extrema ou pelas montanhas imensas que circundavam a cidade.Final de noite, pois subimos num ônibus e partimos rumo a Uyuni, o paraíso perdido!

Vem comigo!

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