Fim do Salar de Uyuni e agora rumo à San Pedro de Atacama. Depois de ir até a casinha de fronteira do lado boliviano e carimbar nossa saída, entramos oficialmente no Chile em uma van com pessoas de etnias diversas. Entre conversas descobrimos mais uma vez que uma pessoa teve sua mochila roubada durante um percuso de ônibus, com o passaporte e tudo dentro. Novamente, fiquem espertos com suas mochilas durante as viagens entre cidades.
Já na estrada percebia-se a melhor infra-estrutura do Chile, com estradas de asfalto bom e bem sinalizadas, com acostamento de verdade. Chegando na alfândega haviam muitos adesivos de motoclubes brasileiros, pelo jeito a galera daqui curte queimar chão em duas rodas por aquelas bandas. Os guias bolivianos haviam comentado que não era permitido entrar no Chile com bebidas compradas na Bolívia mas vi algumas pessoas passando com vinhos na mochila, fica por conta e risco de cada um.
Foto no início do post: Estrada rumo ao Valle de la Luna.
Finalmente chegamos e a primeira impressão da cidadezinha foi de estar chegando numa cidade de velho oeste de barro, porém com um toque mais fino como vimos após explorar um pouco. Descemos em frente ao nosso hostel, chamado Rural. Para variar encontramos pessoas largadas nas redes e o clima era uma mistura de exoterismo, misticismo, tranquilidade e paz.
Check-in feito, saímos para comer algo e conhecer um pouco de San Pedro.
A cidade tem um toque desértico mas ao mesmo tempo o movimento de turistas e mochileiros faz a energia fluir e a cidade fica viva durante o dia. San Pedro tem o perfil de serviços de Uyuni pois também oferece tours de aventura para lagunas, geisers e escaladas, além de aluguel de bicicletas. Dependendendo do roteiro e planejamento é possível iniciar o passeio por San Pedro e depois fazer Uyuni, o contrário do que fizemos. Em relação aos restaurantes, é nessa hora que o clima mais refinado aparece pois dentro de cada portinha da cidade de terra marrom podia-se encontrar um ambiente fresco e aconchegante, com decorações modernas e um estilo europeu, talvez idéias e influências da massa de turistas europeus passam por lá todos os dias. Restaurantes recomendados: Casa de Piedra e Chelacabur.
Comemos um lanche por um preço mais salgado do que estávamos acostumados na Bolívia, o custo em geral no Chile é o maior se comparado com Bolívia e Perú. Depois do rango fomos levantar preços em agências, a ideia era alugar bicicletas e fazer um passeio mais independente dessa vez. Fizemos exatamente isso e saímos pedalando pela cidade para conhecer as praças principais, a rodoviária (importante para a continuação da viagem) e a Iglesia San Pedro, com uma feirinha artesanal próxima.
Após esse tour geral começamos o pedal hardcore rumo ao Valle de la Luna, que juntamente com o Valle de la Muerte formam as duas atrações mais próximas de San Pedro. É possível fazer um desses passeios em meio período tranquilamente de bicicleta, para quem curte.No caminho para o valle a paisagem era muito bonita, fomos pedalando por uma rodovia de asfalto, que beirava a cadeia montanhosa, a formação rochosa de lá é bastante acidentada e por isso a analogia com o solo lunar, loucura! No alto víamos o vulcão Licancabur imponente, por onde havíamos passado dias atrás. Não tinha muito movimento de carros até chegar na entrada do parque, que demorou aproximadamente 1h30min.
Entramos no parque pagando uma entrada simbólica e continuamos pedalando, ali já encontramos outras pessoas de bike e as atrações começavam a aparecer. A indicação de chegada ao parque é somente uma portaria, nada muda quando se está fora ou dentro em relação à estrutura. Lá vimos muitas montanhas e decidimos ir até onde o fôlego deixava para finalmente voltar e subir a montanha que tinha a vista para o valle. O sol começou a baixar e voltamos à subida para o pico do valle, o ideal é chegar lá em cima a tempo de ver o pôr do sol.
O clima é bastante frio e por isso é recomendável levar uma blusa ou jaqueta leve para evitar ficar carregando, não levamos e passamos aperto na volta! A subida ao pico estava cheia de turistas e a motivaçao de chegar lá em cima era alta, o solo era uma mistura de areia e rochas pontudas. No topo já era possível ter uma visão privilegiada do valle, espetacular! Conseguimos chegar no ponto mais alto, que já estava ocupado por uma moça em transe, meditando e observando a paisagem. Também entramos nesse estado porque tudo ao redor era imenso e ao mesmo tempo tranquilo, lugar muito bonito. O sol se escondia pouco a pouco atrás da montanha mais alta e uma sombra linear subia, trazendo a noite com ela.
Depois dessa contemplação começamos a descer a montanha para chegar logo à San Pedro e ainda aproveitar a última noite lá. A volta foi emocionante e sombria porque não tínhamos lanterna e a estrada ainda tinha trechos em reforma, mesmo nesse clima inóspito chegamos no nosso hostel.Saímos em busca de um bar animado para socializar e jantar mas só encotramos restaurantes sossegados. San Pedro é um lugar que tem opções interessantes com decorações simples porém românticas, boa pedida quando se planeja uma viagem em casal.
Mudamos para um lugar que tinha um som ao vivo mas ainda não atendeu as nossas expectativas, segundo o Vinicius, ele ouvira histórias de raves lendárias em meio ao deserto mas depois de perguntar muito não conseguimos descobrir se essas lendas eram reais. Voltando para o hostel o pessoal estava calibrando para sair para um outro bar, fizemos um social de leve e acabamos em um bar que fechava às 2am, parece mentira mas existe uma lei em San Pedro onde não são permitidas festas e venda de bebidas alcoólicas após às 2am e isso nos fez voltar ao hostel e dormir. Antes disso o Vinicius ainda fez alguns amigos gringos e quase acabou sendo contratado como intérprete, mas não conseguiu a carreira.
No outro dia fizemos mais um tour, dessa vez parando para tirar fotos na Iglesia e comprar lembranças na feirinha na praça central. Cerveja e tranquilidade foi nossa forma de se despedir de San Pedro, cidade mística e que reserva boas experiências, um lugar interessante para reflexão, tanto quanto o salar. Sentimos falta de mais movimento à noite mas também não tivemos tempo suficiente de explorar todos os becos.
Já na rodoviária no final da tarde ficamos confusos de onde comprar a passagem certa, o lugar era um pouco bagunçado e parecia um pátio mas deu tudo certo. De lá fomos para Arica.Em Arica descemos em uma rodoviária bem underground, era de madrugada e tivemos que esperar um pouco até as agências e pessoas começassem a aparecer para então ir ao anexo da rodoviária e pegar o ônibus que nos levaria à fronteira e Tacna, já no Peru.
Esse ônibus era bastante simples e velho, para nossa surpresa e receio pediram nossos passaportes antes de subir no ônibus sem explicar muito bem o motivo, o ônibus começou a andar e só depois de uns 100 metros nos devolveram novamente. Tudo deu certo no final e chegamos em Tacna, outra rodoviária simples e nada para se ver, só compramos as passagens para Arequipa e aguardamos.
Próxima parada: Arequipa no Perú, hasta luego Chile!
Essa é pro Vinicius (Delara):