Ilha Grande – RJ

Mais um pouquinho de Brasil e continuando a série de trilhas e conexão com a natureza, falarei sobre a minha viagem à Ilha Grande – RJ.
Há um bom tempo ouço comentários e leio relatos de pessoas tanto da nossa terrinha quanto “do extrangeiro” que vem para cá conhecer as belezas da quinta maior ilha marítma do Brasil, com 193km2 de área. Além de ser destaque pela sua natureza exuberante e ímpar, a Ilha também já foi palco de ataques contrabandistas, rota de tráfico negreiro, local de triagem e quarentena para doentes e, por fim, sede do presídio Cândido Mendes, onde Graciliano Ramos se “hospedou” e escreveu Memórias do Cárcere. Todos esses fatos vieram a aconterecer, meus caros leitoes, a partir do final do século XVI.

Hoje a economia da Ilha é baseada principalmente no turismo. Possui diversas trilhas, montanhas e praias para turismo ecológico e marítimo. O maior vilarejo é Abraão, com aproximadamente 3000 habitantes e para onde a maioria dos barcos que saem de Angra dos Reis vão. É uma ótima base para iniciar as trilhas e, além de uma paisagem repleta de embarcações e iluminação aconchegante, Abraão possui uma grande sorte de pousadas, hosteis, restaurantes, mercadinhos, agências de turismo, parceiros para trilhas, artistas, aventureiros, gringos e contadores de história. J

Chegando em Ilha Grande e Dicas Gerais:

Foto no início do post: Praia do Sul.

Fui de São Paulo a Angra dos Reis de ônibus. Da rodoviária de Angra, é possível pegar um táxi ou mesmo ir a pé por 25min até o Porto/Estação Santa Luzia. De lá saem barcas ou lanchas até o vilarejo de Abraão. As barcas são mais baratas porém demoram mais e só saem uma vez por dia. Fui de lancha, que sai a cada 1h, pois a barca daquele dia já havia partido às 15h30. Neste endereço vocês podem consultar todos os preços e horários das travessias.

Em Ilha Grande não há caixas eletrônicos por isso leve dinheiro suficiente para garantir. Em alguns restaurantes em Abraão aceita-se cartão de crédito porém isso dependerá do bom humor do sinal de celular naquele momento.

Há muitas agências de turismo oferecendo passeios de lancha, escaladas e mergulho, pesquise um pouco antes de fechar negócio.Em Abraão você encontrará mercadinhos, úteis caso você tenha esquecido um repelente ou protetor solar. Os preços, porém, são maiores do que no continente e por isso recomendo comprar os itens esquecidos em Angra para economizar.
Para as trilhas, encontrei e imprimi este mapa. Simples porém muito útil, me ajudando no planejamento, previsão do tempo de caminhada nas trilhas e na identificação de praias e vilarejos.

Energia elétrica é escassa, chega por cabos submarinos e só existe de forma estável em Abraão. Nos outros vilarejos ou não há (Parnaioca, Aventureiro) ou pode faltar (Provetá e Araçatiba). Prepare-se para banhos gelados e desconexão com o mundo moderno!

Passeio até a Lagoa Verde.

Planejamento:

Minha ideia desde o início era dar a volta completa na Ilha, seguindo suas trilhas mais conhecidas e demarcadas.  Li alguns relatos no Mochileiros.com e acabei montando o seguinte plano para 7 dias:

  • Dia D (desembarque na praia de Normandia, ops, de Abraão): Saindo de São Paulo no dia anterior, chegada em Angra dos Reis e então lancha até Ilha Grande.
  • Dia 1 (norte da Ilha): Saindo de Abraão, passeio tranquilo de lancha até a Lagoa Verde, Lagoa Azul, Praia da Feiticeira, Saco do Céu e Praia Camiranga.
  • Dia 2 (trilha leste): Saindo de Abraão, trilhas T10 e T11 até a praia Lopes Mendes, passando pelas praias de Palmas e Pouso. Retornando para Abraão, passando na praia Santo Antônio.
  • Dia 3 (início da volta pelo sul): Saindo de Abraão, trilhas T14 até Dois Rios e então trilha T16 até Parnaioca.
  • Dia 4 (continuação volta pelo sul): Saindo de Parnaioca, trilhas até a praia do Leste, Ilhota do Leste, praias do Sul, Demo e Aventureiro. Continuação pela trilha T9 até Provetá e T8 até Araçatiba.
  • Dia 5 (retorno à Abraão pelo norte): Araçatiba até Lagoa Verde pela trilha T6. Pedir carona para os barcos / lanchas na Lagoa Verde para retornar até Abraão.
  • Dia 6: Passeio por Abraão e retorno para Angra dos Reis e São Paulo.


Onde ficar:

Existem diversos tipos de hospedagem em Abraão, desde o clássico hostel até hotéis de luxo. Eu reservei um hostel pelo Booking, chamado Biergarten, ótimo hostel, limpo e com uma galera bastante sociável. Como é comum as pessoas dormirem por uma ou duas noites e depois ficar fora durante os dias de trilha, o hostel disponibiliza um quarto para que você deixe a mala principal, evitando carregar peso extra. Na volta, é só informar o nome para pegar suas coisas.

– Opções de pernoite nos vilarejos e cidades ao longo da trilha:
Parnaioca:Camping da Janete. É possível alugar quartos e também barraca de camping, sendo esta última a minha opção.

Areia grossa na praia de Parnaioca.

Aventureiro: É o vilarejo com mais opções de camping, portanto fique tranquilo caso vá passar uma noite lá. Segue lista com os campings.
Provetá: é uma vila razoavelmente grande porém não tem opções de camping. Normalmente alugam-se casas para temporada. No Air BnB encontrei algumas – LINK.
Araçatiba: Camping Bem Natural (Bedé). Aluguei um pequeno quarto, muito simples porém deu conta para o que eu precisava. No dia em que cheguei não tinha energia no vilarejo.
Com exceção do hostel em Abraão, em Parnaioca e em Araçatiba cheguei e negociei pessoalmente na hora. Vale lembrar que fui em Agosto e não era alta temporada. Caso viaje em um feriado ou temporada é imprescindível entrar em contato antes para garantir a reserva.

O que levar:

Havia decidido que faria a volta à Ilha de maneira bem leve, carregando o mínimo necessário. Por isso, planejei alugar a barraca em Parnaioca e o quarto na pousada/camping em Araçatiba. Dessa forma, não precisei levar nenhum equipamento de camping, o que salvou bons quilos da minha mochila.As roupas base para a trilha foram camiseta dry-fit, bermuda extensível para calça, bota e boné. Na mochila, levei alimento para as refeições leves durante a trilha, repelente, muito protetor solar, uma troca de roupa adicional, jaqueta e capa de chuva impermeáveis, garrafa de água de 1.5l, lanterna com bateria extra e itens de higiene.

Viajando o mais leve possível.

Percorrer as trilhas de forma leve foi a melhor decisão que poderia ter tomado. Evitei o cansaço prematuro, curti muito as paisagens e o ato em si de caminhar em meio aquela natureza riquíssima, mesmo quando precisei encarar a subida detonante entre Aventureiro -> Provetá.

As trilhas Tx:

No mapa que compartilhei acima é possível ver todas as trilhas que se espalham pelo solo da Ilha, com diferentes níveis de dificuldade, elevações e paisagens. A maioria das trilhas tem placas indicativas no início e fim. Os tempos de percurso são estimados portanto recomendo fazer uma e então comparar seu tempo com o tempo registrado para aquele mesmo trecho, assim você pode usar esse fator para ponderar todas as outras trilhas.

Placa na entrada da trilha T11.

Relato:

Dia 1 – Norte da Ilha de lancha – Lagoa Azul, Lagoa Verde, Praia da Feiticeira, Saco do Céu e Praia Camiranga.

Os passeios de lancha normalmente saem às 10h30, com retorno às 16h. Fechei com a agência Gênesis e a lancha saiu ali da praia do Abraão mesmo. Como falei acima, existem muitas agências. Os preços para esse passeio estavam muito próximos entre as agências (+- R$40) mas vale a pena perguntar. No meu último dia descobri que os preços haviam subido para quase o dobro.

Foi uma experiência muito interessante pois durante a ida até os pontos turísticos a lancha vai acompanhando as margens da Ilha. Pude ir observando o alto nível de conservação em certos pontos, onde via pequenas trilhas ou apenas o verde profundo das folhas encontrando o mar, onde apenas pescadores deveriam colocar os pés de tempos em tempos. A sensação do vento no rosto, acompanhado do balanço da lancha e o sol da manhã também contribuíram para o contexto de liberdade.
A lancha faz uma parada de 40 minutos a 1h em cada uma das Lagoas para que as pessoas desçam e tomem um banho de mar. Caso você não tenha levado snorkell, o piloto da lancha tem um estoque e empresta para quem pedir.

Próximo ao horário de almoço, paramos em um restaurante no meio da Ilha mesmo onde só é possível chegar de barco, chamado La Isla. Com uma estrutura inteira em madeira, servem uma boa porção de camarão, acompanhado de arroz e fritas. Preço um pouco salgado = R$ 70.

Vista da entrada do restaurante La Isla.

Continuando o passeio, a lancha ainda para nas praias e deixa o pessoal relaxar por mais 40min em cada. Finalmente retornamos à Abraão no fim da tarde.À noite vale a pena percorrer a orla de Abraão pela sua estreira calçada, contemplando os bares e restaurantes. Existem muitas opções para jantar, principalmente quando consideramos o tamanho diminuto do vilarejo. Experimentei o linguado ao molho de camarão no restaurante Pé na Areia, excelente porém com preço salgado igual à água daquele mar.

Dia 2 – Trilha Leste

Acordei bem cedo, o café da manhã no Biergarten deixou um pouco a desejar e me fez lembrar dos cafés da minha viagem à Bolívia e Peru: pão, geléia e no lugar do chá de coca, um suco ou leite.

Siga aquela placa!

Saindo de Abraão, primeiro peguei as trilha T10, tranquila, e em 50min estava na praia Palmas – uma praia de pescadores. Ali consegui comprar a volta para Abraão de barco por R$20, isso porque meu plano era aproveitar ao máximo a Lopes Mendes e no retorno só precisar caminhar pela T11 até Palmas. Segui pela T11 por mais 40min até chegar na praia de Pouso, por onde passei rapidamente e continuei por mais 25min até finalmente chegar em Lopes Mendes.

Praia Abraão.
Vista Trilha T10.
Praia Palmas.
Lopes Mendes.

Lopes é realmente uma praia de cair o queixo, classificada entre as mais bonitas do mundo, tem águas cristalinas no nível de enxergar os peixes através do corpo das ondas em formação. A areia branca completa a paisagem, por onde caminhei de ponta a ponta. Como o acesso é relativamente fácil, um grupo de pessoas se concentrava no início da praia, a maioria surfistas.

Lopes Mendes.

Algo triste e decepcionante que notei em praticamente todas as praias em Ilha Grande com face para o mar aberto foi a quantidade de lixo presa nas vegetações costeiras. Ali encontrei bonecas, cadeiras, galões, chinelos, garrafas, embalagens diversas e tudo aquilo que vocês possam imaginar. Vale a conscientização de todos para evitar e até policiar o ato de jogar lixo nas ruas. O destino, infelizmente, é certo.

Lixo acumulado na Lopes Mendes (detalhe na boneca).

Após curtir a Lopes voltei um pouco pela T11 e então entrei numa bifurcação à esquerda, chegando à praia de Santo Antônio. Em teoria essa é uma praia de nudismo mas encontrei 5 pessoas devidamente trajadas, em conformidade com as leis do Séc. XXI. A praia é minúscula e bela, quase um camarote. Vale a visita!Já era final de tarde quando retornei para a praia de Palmas. No caminho, tive a felicidade de filmar um esquilo comendo uma pequena fruta, sumindo rapidamente na mata após matar sua fome. De barco, o trecho Palmas -> Abraão foi feito em 10min.

Praia Santo Antônio.
Esquilo detonando uma fruta.

À noite em Abraão aproveitei para comprar uma pequena bolsa que seria minha “mochila” super-leve durante os próximos dias. Sai com uns gringos do hostel para um barzinho chamado Aquário, bem no início da trilha T10. Era um espaço aberto para o mar, muito legal. Fiquei pouco já que no outro dia começaria a jornada ao redor da Ilha.

Dia 3 – Início da volta pelo sul: trilha T14 até Dois Rios e trilha T16 até Parnaioca.

Café da manhã tomado, fiz a pequena mochila com a intenção de ser a mais leve de todas viagens da minha vida até então. Deixei minha mochila principal no quarto exclusivo do hostel e comecei a subida da T14.

Vista de Abraão a partir da Trilha T14.

A T14 até Dois Rios é bastante larga pois por ali ainda passam carros e caminhões da prefeitura. Sol rachando sobre a moleira, segui com poucas paradas. No inicio da descida, lembrei de um atalho citado em um dos relatos que li, é uma entrada à direita atrás de um pequeno banco de bambus. Essa trilha cruza um bambuzal, é mais fechada e perigosa, como verão a seguir.

Onde tem plantação de bambu, tem cascas cobrindo o chão, tornando o cenário propício para…isso mesmo, cobras. No meio desse atalho, de repende vi uma cobra atravessando a trilha. Parei na hora e comecei a voltar de costas devagar, pensando no que fazer caso a cobra viesse em minha direção. Ela apenas atravessou e sumiu. Como eu já havia caminhado por um bom tempo, decidi continuar, passando igual um raio por aquele trecho e então prestando atenção dobrada a partir dali. A trilha acaba em uma pequena cachoeira, muito exclusiva.

Chegando em Dois Rios após 2h, fiz o registro de entrada com o guarda da guarita e fui procurar um banheiro. O vilarejo ali, por mais simples que aparentava, ainda tinha uma quitanda. A praia não é excepcional mas valeu uma boa caminhada e descanso, até chegar na famosa prisão.

Vilarejo Dois Rios.
Praia Dois Rios.

A prisão infelizmente estava desativada e a única guarda ali me informou que há um bom tempo não abria por falta de verba para contratação de guias. A guarda, que aparentemente não via muitas pessoas ao longo dia, puxou um pouco de conversa e mencionou que eu deveria me apressar caso quisesse chegar em Parnaioca ainda com luz do dia. Agradeci e segui para a trilha T16, localizada à algumas dezenas de metros à direita da entrada da prisão.

Entrada Prisão.
Início T16.

A T16 é uma trilha sem muita elevação porém de dificuldade média por conta de sua distância – 7.5km. Na minha opinião foi a trilha mais interessante de todas pois além da paisagem e trilha sonora mista entre pássaros e oceano, encontrei apenas 1 pessoa no sentido contrário, potencializando os momentos de reflexão e contemplação da natureza.
Em alguns trechos dessa trilha encontrei com árvores caídas e também desvios por conta de deslizamentos. Como a trilha acompanha a costa, muitas vezes tive a impressão de estar chegando em uma praia, que desaparecia à distância na contagem dos passos. Ali ainda encontrei uma cachoeira, onde pude descansar, comer e também encher a garrafa de água. Ao longo dessa trilha foi incrível a quantidade de animais como tatus, macaco prego e pássaros.

Paisagem T16, mar aberto.

A tarde caía e eu continuava caminhando pela trilha, tinha levado uma pequena lanterna mas uma pequena angústia me visitava nos momentos que as árvores e vegetação se tornavam mais densas, dando a impressão que a noite chegaria logo. Apertei o passo e após 2h30min aproximadamente avistei o camping da Janete por um mirante, em Parnaioca.

Chegando lá encontrei com um grupo de 6 pessoas, me apresentei à Janete, muito simpática, e expliquei que gostaria de alugar uma barraca para dormir. Ela tinha 2, sendo que uma estava vaga. Valor do aluguel da barraca – R$40, quartos de casal – R$120 e camping – R$20. A casa tinha placas foto-voltaicas para suprir a energia de iluminação, banho quente, porém, só em dias de sol forte. Arrumei as coisas e fui dar uma caminhada pela praia, sentando em uma rede do camping e relaxando um pouco os pés. Parnaioca é uma praia bonita, a mais selvagem até então. Fiquei muito feliz de ter completado esse trecho e de quebra conseguir dormir na barraca.

Fim da tarde em Parnaioca.
Manhã em Parnaioca.

– Dia 4: Trilha até a praia do Leste, Ilhota do Leste, praias do Sul, Demo e Aventureiro. Trilha T9 até Provetá e T8 até Araçatiba.

Durante a madrugada ventou muito mas ao acordar o céu estava limpíssimo. Tomei café e saí bem cedo pois estava ansioso em iniciar o próximo trecho até a Praia do Leste – em teoria um trecho não oficial e inexistente nos mapas. Para chegar até o início da trilha deve-se andar até o final da praia de Parnaioca e então procurar por uma pequena abertura na mata. Já no início da trilha, bastante fechada, nota-se que não é um caminho muito acessado pelos turistas, muitas árvores caídas e trechos quase completamente cobertos pela mata. Gostei muito da trilha pois despertava cautela e curiosidade a cada passo. No final dela, a marcação praticamente já não existia e foi necessário analisar com bastante atenção. Em 1h30 cheguei na Praia do Leste.

Agora não tem mais placas, é na raça.
Esquerda para direita: Praia do Sul, Ilhota e praia do Leste.

Uma observação em relação às praias Leste e Sul, esse trecho faz parte da Reserva Biológica da Ilha e, por isso, pode ter guardas vigiando e impedindo a passagem de turistas, principalmente em alta temporada. É um risco a ser assumido. No meu caso, em baixa temporada, não havia ninguém.

Praia do Leste.
Praia do Leste, descalço deixando as primeiras pegadas do dia.
As 3 gaivotas.

Na Praia do Leste tive companhia de apenas 3 gaivotas, que voavam a cada aproximação minha. Apelidei-as de Nina, Pinta e Santa Maria. Fiz uma parada para contemplação, águas cristalinas de um lado e o monte de lixo do outro, já tradicional. Seguindo pela praia, há um rio e a Ilhota do Leste.

É necessário atravessar esse rio para então chegar à Praia do Sul. Ao atravessar, leve sua mochila no alto, suba a calça / bermuda e siga o caminho próximo à Ilha (pela esquerda para quem vai da Praia do Leste para a Sul). O nível da água pode variar conforme as chuvas e nesse dia chegou até minha cintura, recomendo levar um cajado para ir verificando a profundidade e evitar surpresas.

Rio que separa as praias Leste e Sul.

A Praia do Sul é muito parecida com a Leste porém no horizonte avistei alguns surfistas. Segui caminhando até o final, até uma encosta de pedra e atravessei-a com cautela pois havia trechos úmidos e escorregadios. No final da encosta encontrei um casal que estava indo no sentido contrário e queria chegar em Parnaioca no final do dia, minha sugestão para eles foi de apertar o passo pois para onde iam o céu começava a se pintar de cinza escuro.

Praia do Sul.
Praia do Sul.
Na encostas entre Praia do Sul e Demo, céu já fechando.

Passei pela linda praia do Demo e então cheguei à Praia do Aventureiro, point dos campings e adeptos. Passei por muitos campings como o do Luis, onde consegui usar o banheiro e, por fim, parei para comer em um quiosque e descansar. A praia do Aventureiro é bonita porém menos bela e deserta como as anteriores. Provavelmente deve ficar cheia em período de alta temporada, uma boa pedida para quem gosta de interagir em campings. O tempo total Parnaioca -> Aventureiro foi de 2h30min.

Eu com a Praia do Demo ao fundo.
Famoso coqueiro torto da Praia do Aventureiro.

Ainda tinha toda a tarde para continuar a trilha e, de volta ao caminho oficial, comecei a T9 rumo a Provetá.

T9 foi a trilha mais íngreme de todas e, independente de onde você comece, vai dar de cara com uma montanha a ser trespassada. Ela começa em zigue-zague para não matar o trilheiro logo de cara, assim, peguei fôlego e embalei. Foi nessa trilha que tive a satisfação em ter escolhido pouca bagagem para rodar pela Ilha, caso estivesse com barraca e outros equipamentos nas costas esse trecho teria sido ainda mais árduo.

Após algumas paradas para tomar ar e água, cheguei ao topo. Lá, talvez já prevendo o nível de cansaço das pessoas, há um banco para descansar. Encontrei um casal com malas gigantes e barraca nas costas, estavam exaustos, porém, firmes. Continuei por mais 1h30min até avistar uma cidadela, construções que não via há 2 dias, desde Abraão. O ruído da cidade e o falatório me deixou reflexivo, pois os pássaros eram a trilha sonora até então.

Estilo da Trilha T9.
Praia Provetá ao longe, vista da T9.
Balanços em Provetá.

Chegando em Provetá, uma surpresa: a cidade estava sem energia. Na próxima trilha fui entender as possíveis causas, quando acompanhei os cabos de energia emendados e pendurados de todas as formas.
Já haviam se passado 2h30min desde Aventureiro, Provetá não havia me apetecido a ponto de pernoitar por lá. Fiz as contas e decidi seguir viagem, rumo à Praia Grande de Araçatiba, trilha T8.

T8 é menos íngrime que a T6 porém não a subestime, principalmente se for a sua última trilha do dia! Tem uma estrutura para permitir tráfego de veículos pequenos, que devem fazer principalmente a manutenção da rede de distribuição elétrica. Seus cabos fazem caminhos milagrosos, passam por entre árvores, encostam na terra e em barrancos, se enrolam uns nos outros e seguem levando energia da Praia Grande de Araçatiba a Provetá.

Essa trilha já não tinha a mesma magia das anteriores e parecia uma rodovia se comparada à T16. Após 2h30min cheguei em uma pequena praia, de Araçatiba (não a Grande), então continuei por um calçamento de concreto, com pousadas e casas de pescadores, até a Praia Grande.

Prainha de Araçatiba.
Praia Grande de Araçatiba – vista do Camping.

A Praia Grande tem uma estrutura razoável com mini-mercados, pousadas e também o peer de onde também saem barcos até Angra e região, reforçando a importância da vila para Ilha Grande. Ali também não havia energia e eu já me contentava em revê-la novamente apenas em Abraão.

Procurei por um camping onde conseguisse alugar uma barraca novamente ou mesmo um quarto. Encontrei um quarto no Camping do Bedé, um senhor aposentado que havia trabalhado na marinha e ainda na ativa como contador de histórias. Ainda naquela noite fui até um mercadinho que funcionava à luz de velas e comprei comida para fazer na cozinha do camping.

Antes de dormir comentei com o Bedé que tinha pouco tempo de viagem e que meu plano seria pegar uma carona com um barco ali em Araçatiba para Abraão, pulando as trilhas T1 a T5, que me consumiriam mais um dia inteiro. Para minha surpresa, não havia uma linha de barcos que fizessem esse percurso. Minhas opções restantes eram:

  1. Fazer as trilhas T1 a T5 porém chegar em cima da hora para comprar o ticket de volta no outro dia.
  2. Ir até a Lagoa Verde e pegar carona com as lanchas até Abraão.
  3. Pegar o barco de Araçatiba de volta à Angra e então o barco rápido de Angra de volta a Abraão para reaver minha mochila – pior opção.

– Dia 5 (retorno à Abraão pelo norte): Araçatiba até Lagoa Verde pela trilha T6. Carona de lancha até Abraão.

Fui otimista e decidi tentar a opção 2). Acordei um pouco mais tarde pois sabia que as lanchas chegavam às 11h ali na Lagoa. Entrei no início da T6 e fui observando as indicações para a trilha até a Lagoa Verde. A indicação é bem difícil de ver, está escrito em um tronco cheio de musgo, ao lado de uma escadinha de pedra. Entrei ali e então fui seguindo esperançoso até a Lagoa. Essa trilha é bem fechada e provavelmente não muito acessada, afinal, a maioria das pessoas optam por conhecer as Lagoas de lancha – como eu havia feito no primeiro dia.

Lagoa Verde de manhã.
Aguardando minha carona na Lagoa Verde.

Cheguei até a Lagoa e estava vazia! As lanchas ainda estavam chegando e eu fiquei um tempo curtindo meu estado de náufrago, agachado nas pedras. De início foi difícil negociar, queriam me cobrar quase o preço total do passeio, porém fui perguntando para cada capitão até que um aceitou em me levar de volta por R$20. De quebra ainda conheci a praia da Feiticeira na volta, chegando em Abraão às 16h feliz com o sucesso da empreitada e por todas experiências vividas nos últimos 3 dias ao redor da Ilha.

Peguei minha mochila no hostel e fiz check-in em outro, Abraão Hostel, apenas para passar a última noite. No centrinho ainda teve um show de forró mas acabei ficando pouco e voltei para dormir. No último dia, comprei o ticket para voltar com a barca por R$15 e me despedi da Ilha, entendendo finalmente o motivo desse pedaço de terra ser tão famoso mundo afora.

Espero que tenham curtido o relato! Não deixem de planejar uma viagem para essa Ilha e tentar fazer ps outros passeios como a escalada ao Pico do Papagaio (T13), Farol dos Castelhanos (T12) e Gruta do Acaiá (T7).

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