A princípio, negamos. Negamos que uma situação assim, tão única e aceita apenas no nosso imaginário cinematográfico, venha emergir à luz da nossa querida idade contemporânea, século XXI, tecnologias de ponta a pleno vapor, carros autônomos e elétricos, drones voadores, foguetes que pousam de pé no seu retorno à Terra, viagens tripuladas para Marte em pauta, algoritmos e robôs que superam a inteligência e capacidade humanas em diversos aspectos. Isso não pode estar acontecendo agora, por que conosco?
E sim, caros leitores, está acontecendo e precisamos refletir por um instante para aceitar a situação com sabedoria e saltar do primeiro estágio do modelo de Kübler-Ross para o último. Tomar ações que estejam sob nosso controle e que, por mais diminutas que possam aparentar, façam a diferença.
Para um blog que se especializou em relatar experiências de viagens ao redor do mundo esse papo tá estranho, não acham?
Sem dúvida. E com certeza eu gostaria de estar compartilhando com vocês experiências de uma nova viagem, que estava planejada para meados deste ano e teve que ser cancelada por motivos bem conhecidos. De qualquer forma, como comento em diversos relatos, somos nós que tornamos um lugar especial e nesse momento faço da minha casa o palco das reflexões que seguem.
É importante mencionar o quão privilegiadas são as pessoas que tem uma casa, ou melhor, um lar digno, onde possam se refugiar de maneira segura e relativamente confortável. Além de pertencer a esse grupo, tenho também minha namorada Ana ao meu lado e morando comigo durante esse período, super parceira e ótima companhia.
No Brasil, 35 milhões de pessoas não tem acesso a água tratada (SNIS 2018) e mais de 11 milhões vivem em aglomerados subnormais ou favelas (IBGE 2010 – SIDRA), ou seja, sob condições onde as interações pessoais são menores estando na rua do que dentro de casa.
Difícil também é assinar qualquer sentença para quem não está trabalhando e por fatores diversos não construiu uma reserva de emergência para superar os meses vindouros, com ou sem o auxílio governamental. Afinal, a lei de sobrevivência e auto-preservação inerente aos seres humanos se torna latente em situações assim, concordam?
A recomendação é tomar a informação em doses homeopáticas – pequenos shots para os mais familiares com a vida boêmia. O que realmente mudará na sua vida ao saber que os casos hoje em Mônaco são 2% maiores em relação à ontem? Ou que um grupo de pessoas no Panamá está protestando para que os restaurantes re-abram? Se a curva de casos está defasada, sub ou super dimensionada, precisamos que as políticas garantam que não morrerão pessoas por falta de atendimento em hospitais. Ver e rever tudo isso numa frequência diária irá contribuir para superar a pandemia ou mesmo nos ajudar? Acredito que não.
Livre dos julgamentos, resta surfar e filtrar eficientemente os tsunamis de informações que fluem e inundam nossa mente a cada segundo, através de todos os meios midiáticos imagináveis. Não seria exagero supor que até pombos-correios estariam sendo convocados para entregar notícias e garantir que nem mesmo os retirados escapassem ilesos de entrar numa “bad”.
Deixemos os especialistas trabalharem. Não seremos ingênuos, o pote de ouro está no final do arco-íris aguardando a primeira farmacêutica liberar as vacinas – serão bem recompensados.
E o governo federal brasileiro…ahh, o governo brasileiro. Ou seria desgoverno? Tão caótico e incerto que nem o melhor e mais iluminado cientista político poderia fazer qualquer previsão ou traçar com certeza a estratégia e resultados no curto prazo. Precisamos que ao menos a democracia se mantenha firme enquanto essa carroagem passa.
Essa aceitação da realidade soa como conformismo? Talvez, mas é o meio de trazer a paz e calma necessárias para tomarmos as ações que realmente temos controle e que podem ajudar a deixar mais ralo o caldo que entorna a cada dia.
Priorizar a saúde e a proteção individual é essencial. Usar máscaras e seguir as regras básicas de distanciamento para então pensar em dar o próximo passo. Falar mal das políticas globais tomando umas biritas no bar com os parceiros e sem máscara é, sem tirar nem por, uma hipocrisia.
Sobre a economia, se pudesse resumir em uma frase, seria: coloque seu dinheiro para circular. É claro, para quem pode fazer isso e ponderando sua sobrevivência, sem provocar a própria falência.
Esqueçam por um instante os males do capitalismo. Ninguém vai passar a mão na cabeça dele pois não é novidade que esse malandro vive de crises e infelizmente pessoas irão enriquecer enquanto outras irão se tornar mais pobres ao final de tudo. Porém reforço que, no curto prazo, o melhor é comprar verduras da vendinha da esquina, deixar cortarem a grama da sua calçada, comprar marmitas, continuar patrocinando quem antes fornecia serviços para suas casas, dar gorjetas, fazer doações para hospitais e instituições sérias como BSocial, Charity, Lista Globo, Charity Navigator, Lista Folha, em suma, ajudar quem está próximo do seu círculo de influência, além de fazer a pequena economia girar.
Para quem continua trabalhando, ótimo! Já quem está em uma baixa demanda temporária, é muito importante manter a mente ativa. Por isso estudem, façam cursos online grátis (Udemy, Coursera, Edx, Sebrae), leiam livros (BVirtual, Open Library, Domínio Público, Universia, Amazon), alimentem-se com conteúdo de qualidade, seja em sua área de especialização ou em outras, como fotografia no meu caso. Assim que a crise passar, o mercado estará sedento em busca de pessoas com conhecimento.
Mente tá ok. E o corpo, tá ok? 🙂
Se exercitar em casa ou fora da academia, seguindo uma rotina e disciplina é um verdadeiro desafio! Mas alguns itens podem ajudar a tornar o exercício mais prático e viável. Para os que curtem exercícios aeróbicos, pular corda e andar de bicicleta são excelentes, no caso da bicicleta, é necessário comprar um rolo de treino para poder pedalar sem sair de casa. Para os mais Zen, alguns aplicativos ajudam a guiar a meditação (Sattva) e práticas de yoga (Yoga Studio, Pocket Yoga, Down Dog).
O YouTube também fornece centenas de treinos dentro de casa com e sem pesos, que podem ajudar muito a manter a saúde.
Por fim, muitos empreendedores nesse momento estão dando cambalhotas e queimando a massa cinzenta pensando em soluções e alternativas para evitar a falência com a queda ou a inexistência das suas receitas, o que gera um efeito cascata direto na economia, com desemprego, menor consumo, menor receita novamente e o ciclo se reinicia. Principalmente para os que dependem de turismo ou outros serviços não prioritários no momento fica difícil prever qual será o futuro. O certo é que todos dependerão muito de nós, consumidores de bens e de viagens, para que a locomotiva volte a andar a todo vapor e gere a renda saudável de cada dia.
Lembrem-se, o mundo ainda estará aqui ao final de tudo, nos esperando para conquistá-lo novamente!