Buenos Aires e Ushuaia – Paisagens Impressionantes

Saindo do Uruguai, chegamos na Argentina via Buquebus, um pacote um pouco mais caro que as concorrentes mas que por fim foi uma escolha segura com bom custo-benefício. Inclui um ônibus de Montevidéu até Colonia e, nessa mesma cidade, a travessia de barco até a Buenos Aires. Há também as empresas SeaCat e Colonia Express.

Chegando em BsAs, retornamos ao ritmo cosmopolita usual, Montevidéu havia sido bem guardada na memória e agora era o momento de pegar o bonde já em movimento. Ficamos hospedados no Hostel Sabatico, a 2,5km do centro. A localização era boa e conseguimos nos locomover para todos os cantos facilmente de ônibus ou táxi. O único problema do Hostel foi que dedetizaram o nosso quarto no primeiro dia, com nossas coisas dentro, em lockers debaixo da cama que não impediram o veneno de chegar até as mochilas. Depois de toda a confusão ganhamos a lavagem de graça de todos nossos pertences e de quebra ficamos imunes a qualquer tipo de inseto ou efermidade pelo resto da viagem. 🙂

Foto no início do post: Pinguins imperiais na Pinguinera, em Ushuaia, Argentina.

Show da banda La Bomba del Tiempo

No próprio hostel pegamos as dicas dos eventos mais relevantes e um que valeu muito a pena foi o show da banda La Bomba del Tiempo. Para quem conhece o Funk Como le Gusta, diria que os grupos são irmãos gêmeos separados no nascimento. Enquanto La Bomba tem uma influência mais afro, com muitas congas, tímpanos, shekeres e bongôs, o FCLG é mais eclético e tem influência rock, jazz, groove, soul e hip hop. Ambas excelentes bandas, sem sombra de dúvida.

O show acontece todas as segundas-feiras na Ciudad Cultural KONEX um espaço cultural que abriga eventos musicais semanalmente. O ingresso custa 130 pesos se comprado antecipado e 180 na hora, respectivamente 20 e 30 reais. Preço justíssimo pela qualidade musical apresentada.

Ciudad Cultural Konex.

Desse lugar, ainda saímos acompanhando um grupo local de percussão pelas calçadas a la carnaval até uma outra balada chamada Uniclub, de pinta mais eletrônica, sem comparação com o som do La Bomba.

Bar de rock Makena e Antares

Além de ir até os clássicos Caminito, La Bombonera, Recoleta e Puerto Madero, estávamos procurando um bar mais local e, após sermos barrados em um bar de salsa no bairro Palermo, um lugar do qual não lembro o nome, pegamos umas dicas no ponto de ônibus e fomos até o Makena Cantina Club, um bar de rock clássico e alternativo.

Bar de rock Makena.

No bar estava rolando um festival de bandas locais, que tocavam entre 3 e 4 músicas para então dar lugar a outro grupo. O palco era como num mezanino no segundo andar e foi uma experiência interessante.

Outro bar recomendado é o Antares, também no Palermo. Um pouco mais badalado, mas com um ambiente legal para conversar e tomar umas biritas, aliás, o bar é especializado em cervejas e há dezenas de opções para os mais beberrões.

Transeunte – aquele que não permanece. Obelisco ao fundo.

Bellas Artes, MALBA e La Usina del Arte

Como a sessão cultural não poderia faltar no roteiro, visitamos uma tríade de respeito. Começando pelo Museo Nacional de BellasArtes, o banho foi da arte clássica até a abstrata, com centenas de obras como Van Gogh, Picasso e Monet, precisaríamos de um dia inteiro ou mais para ver cada cômodo com detalhes. Foi um excelente pontapé inicial para abrir a cabeça e visitar a Floralis Genérica, presente do arquiteto Eduardo Catalano. Entrada no Bellas Artes é free.

Floralis Genérica.

Ali descansamos um pouco e fomos até o Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), em um prédio muito moderno, enorme e com obras de encher os olhos. Destaque para o Abaporu, de Tarsila do Amaral, abrindo as portas e dando boas vindas aos interessados. Outras obras de Tarsila, além de Anita Malfatti, podem ser vistas no museu. Ali encontramos muitas obras brasileiras, o que nos deu um certo orgulho artístico. Outro ponto perceptível ali no MALBA é a influência do Brasil e sua grande produção artística na América Latina, detalhe que passa batido muitas vezes quando estamos na grama do nosso próprio quintal. A entrada no MALBA é aproximadamente 30 reais.

Muita arte nas casas a caminho do La Usina.

Por fim, fomo ao museu La Usina del Arte, nos cafundós de La Boca. Fomos caminhando pelo bairro, perguntando, até conseguir chegar. A entrada lembra uma estação de trem antiga, com uma torre de relógio em destaque.

Entrada de La Usina del Arte.

La Usina é um tanto alternativa, vimos por exemplo a exposição de um fotógrafo hiper-realista, David LaChapelle, que trazia para as telas desde imagens de maquetes como se fossem um cenário real, até outras com fortes críticas sociais como Jesus abençoando um grupo de rappers e jogadores de basquete, sempre aparecendo em imagens cotidianas. Vale a pena também!

Ushuaia

Do centro argentino seguimos para o sul, e bota SUL nisso. Fomos parar na cidade mais austral do mundo, La Tierra del Fuego, el fin del mundo! Vos apresento, Ushuaia.

Lá, eu e o Diogo encontramos com uma galera campeã mundial, cinturão de ouro mesmo. Listo aqui os personagens para poder contextualizar melhor os comentários: Daniel, Priscila, Paola, Mariana, Jéssica, Pedro e Suellen.

Alugamos uma casa no AirBnB, digna do museu Bellas Artes. Feita com paredes estilo container, era uma mistura de loft nova iorquino com algo ushuaio, com quadros de nativos da região contribuindo para essa impressão. A casa tinha janelas grandes que proporcionavam uma vista privilegiada da cidade e das montanhas ao fundo. De quebra, ainda tinha uma piscina aquecida no sub-solo. Nada como uma Pool Party para quebrar o gelo ushuaio, não é? J

Hehe he HE he. 🙂

Único ponto negativo foi a distância da casa ao centro da cidade, que mesmo sendo 5-10min de carro, era uma grande aventura a cada saída do grupo. Ou pegávamos carona na beira da estrada – imaginem 9 marmanjos pedindo carona no fim do mundo – ou aguardávamos o transporte público, que poderia demorar até 1h, um tempo considerável, principalmente naquele conforto de beira de estrada, sensação térmica de gelo com vento.

Vale reconhecer a habilidade das mulheres do grupo em conseguir carona, de forma descontraída, com simpatia contagiante, fazendo o trânsito ushuaio literalmente parar.

Comer o caranguejo real

Interior do Bar Ideal.
Bogedon Fueguino.

Além dos excelentes restaurantes no centro da cidade, como o Bodegon Fueguino, o famoso Hard Rock Café, o Pub Dublin e o Bar Ideal, precisávamos provar o lendário Caranguejo Real – King Crab.

O Pedro salivava só de pensar e fomos na Cantina Fueguina de Freddy, na Av. San Martin. O restaurante era simples, com um toque italiano. Ao entrar, escolhemos o caranguejo na vitrine, como nos filmes, e aguardamos o preparo. Durante a espera, uma cena cômica, todos de babador tentando entender o que fazer com as tesouras.

Chegando o gigante crustáceo, cada um puxou uma pata e começou a recortar. A carne é saborosa e depois de um tempo de prática o manejo também traz satisfação. O Pedro, por sua vez, não via sentido em comer algo tão raro, provavelmente sentia falta do arroz, feijão e jiló em servidos com carinho em Rancharia – SP. Brincadeiras à parte, tenho certeza que ele gostou da experiência, uma excelente pedida na Tierra del Fuego.

Pedro. o valente.

Laguna Esmeralda

Continuando com as aventuras, o próximo passeio que fizemos foi a Laguna Esmeralda. Aliás, contratamos os passeios na agência Brasileiros em Ushuaia, intermediados pela ilustríssima Tia da Excursão, Priscila. A agência foi a nossa referência e contratamos a maioria dos passeios com eles, em geral tudo correu tranquilo, com bastante profissionalismo.

A Laguna é uma pedra preciosa em meio às montanhas geladas e, para chegar até lá, é necessário percorrer 3,5km de trilhas, passando pelas mais diversas paisagens. Saímos cedo e a agência nos deixou na entrada da trilha. Antes de zarpar, o motorista combinou o horário de volta e sugeriu levar alguns cajados para ajudar na caminhada e apoio nos diferentes tipos de solo.

Mariana liderando o grupo com cajado e sabedoria.

O início da trilha tinha bastante lama e uma boa alma até tentou colocar tábuas e troncos para servirem como pontes, mas não adiantava muito. Nesse início todos estavam cheirosos e limpos, evitando ao máximo sujar mais do que a sola das botas. No retorno a realidade era outra e só faltava pular de peito na lama, relembrando os programas dominicais do Gugu.

Barragem construída pelos castores.

Continuamos a trilha e no meio do caminho cruzamos com barragens e também destroços da floresta, resultado do trabalho incessante dos castores. A paisagem é digna de um filme estilo Senhor dos Anéis, com árvores altas, copas cobrindo as trilhas enquanto montanhas observavam-nos ao fundo,  imponentes.

Em um trecho intermediário, o solo ficou bastante fofo, quase um pântano seco. O Diogo, com seu espírito Indiana Jones foi querer trilhar um caminho virgem e acabou afundando até as coxas nessa vegetação. As meninas ofereciam gravetos fracos para ele se segurar enquanto outros já pensavam em seguir viagem, aceitando a perda. Finalmente, trouxemos ele de volta à luz do solo e todo grupo continuou viagem.

Laguna Esmeralda.

Próximo à Lagoa, começou a chover. O terreno, que já era hostil, ficou ainda mais escorregadio com pequenos córregos e pedras úmidas atravessadas no nosso caminho. Continuamos em passo rápido.

Finalmente, após muita água no lombo, chegamos à Lagoa. A imagem na chegada surpreende e, mesmo sob chuva, a cor verde se destacava em meio às montanhas. Todos ficaram contemplando a paisagem por um tempo, absorvendo a recompensa da caminhada, até chegar o momento de voltar.

Além do psicológico afetado parcialmente pela chuva, precisávamos chegar no horário para encontrar com o motorista. Assim, o grupo se dividiu e uma parte foi na frente mais rapidamente. Dali para frente, o corpo já era 100% água e a lama se tornou nossa parceira inseparável. No fim foi tudo muito divertido pois as piadas não pararam em nenhum momento da trilha. Chegamos a tempo de encontrar com o motorista e voltamos todos sãos e salvos para a cidade.

Viajantes.

Estância Haberton e Pinguinera

O último passeio, altamente recomendado, é a visita à estância Haberton e a ida de barco até a Pinguinera, ilha repleta de pinguins, por onde é permitido caminhar e vivenciar uma experiência única e rara, principalmente para nós brasileiros, conterrâneos do calor e vizinhos do sol.

Na pinguinera.
Pois não?

Mais uma vez saímos de van do centro de Ushuaia e seguimos até a estância. Lá, visitamos o Museo Acatushún de Aves y Mamíferos Australese Ilha Martillo, que tem fósseis de diversas espécies, do menor pássaro até a gigante baleia. O tour é interessante e é apresentado por estagiários da universidade de lá, estudantes da vida marinha.

Em seguida, subimos em um barco/bote para ir até a Pinguinera, o ápice da viagem. Antes de chegar, tivemos instruções de não tocar nem alimentar nenhum pinguim, não levar um filhote no bolso para casa e também não se aproximar muito (curiosamente, quem se aproxima são eles mesmos).

Descemos na ilha e a experiência foi espetacular. Uma infinidade de pinguins curtiam a região mais próxima da água enquanto que outros apenas observavam o horizonte. Os mais conservadores caminhavam na orla da ilha enquanto os mais despojados e surfistas davam um mergulho nas águas gélidas.

As espécies que vimos foram pinguins-de-magalhães, gentoo e um casal da bela espécie imperial.

Ficamos por um bom tempo impressionados com a tranquilidade dos pinguins, mesmo na presença de um grupo razoável de pessoas. Continuamos caminhando até uma área onde os ovos tinham sido depositados e alguns bebês-pinguins já davam mostravam o bico para o mundo.

Os bebês eram facilmente diferenciados pela penugem cinza clara, enquanto que os mais velhos já tinham perdido os pelos. O caminho era demarcado com cordas, para evitar uma invasão, mesmo  que sem querer, dessa região mais delicada.

Uma situação curiosa e engraçada foi a cara de pau dos pinguins que atravessavam as cordas e ficavam bem no meio do caminho, quase tocando as pessoas, indiferentes com os curiosos seres humanos. Durante todo o momento, os pinguins emitiam os mais diversos ruídos e o ambiente ecoava todo esse falatório.

Após 1h, tivemos que retornar ao barco, nos despedindo daqueles animais tão selvagens quanto dóceis, seguindo puramente seu instinto.

Termino aqui o relato da Argentina, espero que a semente da curiosidade tenha sido plantada, para que visitem esses mesmos locais em oportunidades futuras.

Não posso deixar de indicar o passeio pelo Canal Beagle, que foi feito com maestria ao ritmo brasileiro do samba, embalando os gringos dentro do barco.

Farol no Canal Beagle.
Vista da trilha ao Glaciar Perito Moreno.

Também visitamos o Glaciar Perito Moreno e, por fim, o parque nacional com trekking e competição de corrida de caiaques em alto mar, embaixo de chuva! Tudo isso depois de comer muito churipan regado à vino! vino! vino!

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