Com o advento da tecnologia no final do século XX e seu aumento progressivo nos anos seguintes, o ser humano passou a interagir socialmente de maneira diferente em comparação às gerações anteriores, se comportando de forma líquida e veloz, principalmente ao usufruir ativa e passivamente da informação. Essa característica, exposta e defendida por Bauman, traz luz às tendências futuras e motiva novos estilos de escrita.
Esse primeiro parágrafo em tom formal/irônico é na verdade a razão real por eu estar fazendo um experimento no estilo de escrita das minhas viagens. Para aqueles que me conhecem e já leram outros relatos, sabem que eu gosto de entrar nos detalhes e esmiuçar as experiências, em contrapartida, sempre fui adepto ao novo. Dessa forma, irei alternar de acordo com a quantidade de informação e tempo disponível para escrever. Esperam que curtam esse estilo “moderninho”, dividido em tópicos.
Foto no início do post: Palacio Legislativo.
Seguem, portanto, 6 coisas que vocês não podem deixar de fazer ao visitar o Uruguai.
Mas antes, gostaria de salientar que nessa viagem tive a companhia do Diogo, mineiro por excelência, engenheiro de formação, vive a vida como se fosse arte e tenta expressar nas artes a sua visão da vida. Dizem que é ator e músico nas horas vagas e que faz uso desse aval para expressar-se corporalmente nas rodas musicais mundo afora.
Chegando em Montevidéu, a sensação foi de uma constante tranquilidade de cidade pequena, como se o movimento frenético característico de uma metrópole tivesse sido freiado levemente para que a cidade fosse melhor apreciada.
Outro ponto relevante e válido comentar é a segurança. Caminhávamos por todos os becos centrais até o cair madrugada e nunca tivemos nenhum sinal, nem mesmo intenção de incômodo por terceiros, pelo contrário, lembro de estarmos caminhando às 2AM no calçadão próximo a Playa Ramirez quando avistamos uma mãe passeando com seu bebê num carrinho, tranquilamente, além de crianças andando de skate e jogando bola.
Não pensem que tudo é perfeito só porque é um país seguro e calmo, além da cannabis ser legalizada. Os preços são salgados, em média 1.8x em relação ao que pagamos no Brasil pelos mesmos produtos e serviços.
1. Fim da tarde no calçadão da Rambla República Argentina
Como mencionei, o calçadão que acompanha as Avenidas/Ramblas Republica Argentina e Pte. Wilson é muito movimentado durante todo o dia. Ali é um excelente ambiente para caminhar, ouvir música, tomar uma cerveja ou mesmo sentar e apreciar o movimento. Montevidéu é uma cidade muito musical e com certeza você encontrará grupos tocando violão, charangos e similares.Finalmente, o pôr do sol ali é intenso, famoso pelas fortes cores que tinjem o céu uruguaio.
2. Tocar e acompanhar a música e os grupos de percussão.
Montevidéu não teria sido a mesma se não tivéssemos levado instrumentos musicais. A banda era: Diogo na voz e cavaquinho e eu na voz e pandeiro.Ficamos hospedados no Hostel Compay entre o bairro Palermo e o Parque Rodó. O Hostel foi uma excelente opção, com pessoas muito atenciosas, além de um ótimo ambiente para socializar. Lá no quintal dos fundos arranhamos algumas músicas brasileiras e as pessoas das mais diferentes nacionalidades curtiram muito e acompanharam, do simples bater de palmas até uma dança.
Notamos uma forte tradição de músicas de percussão, com influência de ritmos africanos como da religião candomblé. No bairro onde ficamos, diariamente se ouvia ao longe uma percussão, como se estivessem num ensaio de bateria – siga aquele som! O grupo seguia tocando e andando pelas ruas, com muitas congas e djembes.
Conseguimos também, por sorte, encontrar um pequeno grupo chamado El Rodó próximo ao Parque de mesmo nome. Incrivelmente eles puxaram diversos clássicos como Daniela Mercury e Olodum, a experiência foi única.
3. Caminhar pela Av. 18 de Julio
Se pudesse citar uma atividade que fizemos sem moderação na viagem foi a de caminhar, que pode ser uma ótima opção caso você atravesse de uma ponta a outra a Av. 18 de Julio, que é Avenida Paulista de Montevidéu.A jornada começa saindo da Puerta de la Ciudadela e atravessando a Plaza Independencia. Após alguns quarteirões chega-se na Plaza Juan Pedro Fabini, que abriga o Centro de Exposiciones Subte, uma ótima parada para um gole de arte moderna.
Continuando, você passará pela Fuente de los Candados onde poderá tirar algumas fotos mais populares. Ainda na Av. 18 há o Teatro El Galpón, a Bilbioteca Nacional e, já no fim, o Obelisco a los Constituyentes de 1830. Atrás do Obelisco está o Parque Batlle, ponto de descanso caso tenha chegado até lá.Além de todas essas atrações, essa caminhada possibilitará uma imersão no cotidiano de Montevidéu, muitas pessoas, comércio a todo vapor, negócios, porém, tudo acontecendo naquela cadência diferenciada. Duvida?
4. Mercado del Puerto
O centro histórico também é um destino obrigatório, além de toda a arquitetura de uma cidade portuária/litorânea, com prédios e casarões em estilo neoclássico, vale a visita especial ao Mercado del Puerto.
O mercado é pequeno, como se fosse uma fração da região das lanchonetes do Mercado Municipal de São Paulo, porém, com uma diferença importante: lá o churrasco rola solto! O cheiro dos assados domina o lugar e trás quem passa em frente pelo queixo, com aquela mão de fumaça encantada.
Procuramos pelo prato lendário “Ancho con Hueso” porém a única resposta nua e crua que recebemos foi que não tinha lógica pedir com osso se iríamos comer só a carne. Sinceridade à parte, almoçamos em um restaurante externo ao Mercado pois estava muito mais fresco. Nesse restaurante, a organização, ou a falta dela, nos impressionou negativamente e a conclusão foi que a tranquilidade uruguaia não joga a favor dos serviços com demanda turística alta.
Ali no Mercado, mais uma vez, vimos um grupo de percussão candomble passar para agitar as cadeiras de todos os ali presentes.
5. Punta del Leste e a Balada Soho
Para quem está visitando o Uruguai, um destino certo é Punta del Leste. Com sua fama de praia badalada, atrai os turistas em busca de diversão e música eletrônica, nas famosas Mambo ou OVO. Não vou falar aqui dos destinos tradicionais mas sim dar uma visão geral e também comentar sobre uma balada que fomos.
Nos hospedamos num hostel chamado The Trip e, já na entrada, nos deparamos com uma figura icônica, que seria eternamente lembrado pelo seu jargão “Vocês vão se divertir muito com a gente, vem comigo!”. Qualquer semelhança com uma chamada da Rede Globo não é mera coincidência, afinal, essa pessoa já havia se apresentado em programas de TV pois estava fazendo a volta ao mundo em um skate. O que ele não contava é que nós não tínhamos a menor ideia de quem ele poderia ser, sendo arquivado apenas nas nossas lembranças cômicas.
O Hostel era interessante e o dono, chamado Daniel, tinha paixão pela música, especialmente por percussão. Passamos o Natal lá e foi bastante divertido, com uma palhinha novamente da nossa queria música brasileira.
Após a virada, saímos em busca da balada que iríamos em Punta, afinal era nossa única noite lá. Caminhamos pela Rambla Artigas sentido Porto até encontrar a tal da Soho. A Soho tocava diversos gêneros e foi uma excelente opção. No térreo tinha um DJ com uma música mais pop, salsa e hits latinos enquanto que no 1º andar o eletrônico avançava alucinado, sem pausas.
Amanheceu sem que tivéssemos percebido e já era hora de voltar. Ao chegar no hostel, encontramos o nosso outro ídolo da viagem, amigão do Diogo, o Guile. O Guile era o DJ do Hostel e tocou na noite de natal, encontramos ele na Soho fazendo algumas performances estranhas e magicamente estava de volta no Hostel de manhã, renovado como se tivesse dormido a noite toda. Provavelmente era a energia uruguaia mais uma vez fazendo efeito.
Em geral as praias de Punta são bonitas, com um mar rebelde mas bastante limpo, mesmo assim, o espetáculo ali não foge muito da vida noturna. Para os bohêmios, vale passar 1 ou 2 noites por lá, conhecer alguns restaurantes, uma balada e por fim as suas praias. Não se esqueçam de passar na “La Mano” e também no museu / galeria de arte “Casa Pueblo”, muito famoso por seu pôr do sol. Não visitamos a Casa e preferimos apreciar o evento do fim de tarde no “Faro” de Punta.
6. Praias La Paloma e La Pedreira
Na nossa viagem não tivemos tempo de percorrer todo o litoral norte do Uruguai, infelizmente, já que havíamos ouvimos ótimos relatos. Mesmo assim, decidimos alugar um carro e ir até La Pedreira, passando por La Paloma. Na minha opinião são dois destinos que devem ser incluídos no roteiro, caso possível.
Em primeiro lugar, a paisagem é exclusiva. Relemebrando que a população total do Uruguai não chega a 3,5 milhões, em uma área do tamanho do estado de SP. Ou seja, a densidade é muito baixa e os arredores da estrada desertos ou com pouquíssima estrutura, sendo que raramente uma casa ou fazenda despontava.
Segindo nessa paisagem, chegamos a La Paloma, uma cidadezinha simpática onde a atração é o farol e o mar revolto nas pedras da costa. O clima não estava muito convidativo mas mesmo assim pudemos apreciar a paisagem rochosa ali na beira da praia. Almoçamos um Ancho de dar inveja num restaurante bastante alternativo, chamado Orishas.
Seguindo para La Pedreira, a paisagem se tornava ainda mais inóspita e quando chegamos a impressão foi que havíamos errado o caminho. Uma estradinha de terra em meio a uma mata densa lembrava os condomínios do Litoral Norte de SP. Percorremos a vizinhança, praticamente uma dúzia de casas e comércios, até chegar em um mirante, onde a vista da praia era privilegiada. Uma paisagem muito bonita também e que acabou ficando na lembrança. Tomamos uns drinks no bar chamado “El Petisco” e retornamos pela estrada de volta a Montevidéu.
Espero que tenham curtido, visitem e vivam essas e mais outras experiências pelo Uruguai. Voltaremos em breve para fazer o litoral norte!