Jamaica – Montego Bay, Negril e Treasure Beach (pt 1)

A Jamaica com certeza está entre os países que desde jovens sonhamos em visitar. Quem não se lembra do filme Jamaica Abaixo de Zero, na Sessão da Tarde? Particularmente, atribuo esse interesse ao primeiro contato que tive com as músicas de peso social do ícone do reggae, Bob Marley. Além disso, existe um certo misticismo acerca das pessoas e do próprio lugar, despertando ainda mais a vontade de desembarcar na ilha caribenha, onde a beleza e a cultura rastafari tornam-se uma só.

Chega de esperar, vamos à Jamaica “my man, respect!”
O planejamento da viagem foi bastante espontâneo, decidi que iria usar 15 dias das minhas férias para finalmente conhecer o país. Levantei muitas informações nos blogs e sites pela internet para finalmente montar meu próprio plano. Meu objetivo era dar uma volta completa na ilha, tentando otimizar o tempo e dinheiro. Por fim, o roteiro ficou nesta ordem:


Parte 1: Montego Bay -> Negril -> Treasure Beach -> 
Parte 2: Kingston -> Port Antonio -> Ocho Rios -> Montego Bay


Foto no início do post: vista do farol de Negril.


Para a acessar a parte 2 do relato, clique aqui.
Abaixo montei um mapa para ajudar na visualização, também incluí cidades onde fiz escalas para pegar taxis e ônibus:

Roteiro com cidades da volta à Ilha.

Como chegar:Para ir até a terra do King Bob exitem algumas opções de vôos com escala, nenhum vôo direto a partir de São Paulo, infelizmente. Como eu tinha visto dos EUA, o melhor foi ir até Atlanta pela companhia Delta para então pegar o vôo até Montego Bay, que é uma das duas portas de entrada no país, além da capital Kingston. Para quem não tem visto dos EUA, os vôos mais comuns são com escala no Panamá ou Cidade do México.


Como se locomover: A Ilha não é grande, são aproximadamente 660km para fazer uma volta completa e se você observar em um mapa vai perceber que ela é uma fração de Cuba. Além disso, são poucas as rotas costeiras principais (A1, A2, A3, A4 e T1). Por esses motivos, muitas pessoas optam por alugar um carro e fazer a volta por conta própria. Como eu estava sozinho, o aluguel ficaria um pouco fora do orçamento e, então, optei pelos métodos mais populares.

  • Aluguel de carro: passa a valer à pena quando os viajantes estiverem em no mínimo 2 pessoas. Principais agências estão nas cidades de Montego Bay e Kingston.
  • Taxi privado (private taxi): são taxis mais próximos aos que estamos acostumados, registrados, mais seguros, confortáveis e, como nada é perfeito, mais caros. Recomendo quando não existir outra opção ou se as disponíveis aparentarem não ser confiáveis.
  • Taxi compartilhado (route taxi): taxis parecidos com os privados, porém de qualidade inferior, normalmente são carros mais velhos e, como o nome já diz, podem parar em qualquer ponto para agregar mais viajantes ao longo da sua rota. São baratos e não vi problema em utilizá-los para fazer trechos curtos. Por exemplo, quando precisava ir e voltar do hostel à cidade ou às praias mais distantes. Também utilizei para fazer rotas inter-municipais mais curtas.
  • Ônibus de viagem: A principal empresa é a Knutsford Express, no site é possível ver toda a tabela de horários. São ônibus confortáveis e com horários bem definidos, porém, não saem todos os dias. Interessante quando o horário for crucial e também a rota for feita entre cidades maiores. O custo fica entre o route taxi e private taxi.
  • Micro-ônibus (mini-bus): muito utilizados pelos locais, recomendado para as pessoas que querem mergulhar no dia-a-dia da Jamaica. Normalmente saem das rodoviárias menores, apenas depois de lotarem. Por esse motivo os horários não são muito bem definidos. Há também paradas no meio do caminho, onde quer que estejam as pessoas. É o meio mais barato de se locomover entre cidades.

Montego Bay -> Negril:Private Taxi: 50-80USDRoute Taxi: 20-30USDÔnibus: 12USDMicro-ônibus: 5USD

exemplos de custo aproximado


Onde ficar: Reservei hostels no site Hostel World para praticamente todas as cidades que fiquei, com excessão de Port Antonio. Há também inúmeras opções que vão desde casa de nativos, que podem ser encontradas no Couch Surfing, até resorts luxuosíssimos como o Couples Resort, em Negril. Aliás, a Jamaica é recheada de resorts, muitos norte americanos e europeus vão para lá para ficarem tranquilos nos “all inclusive”, acredito que acaba sendo um destino tão exótico quanto o Havaí porém mais em conta.


Inglês Jamaicano: Na Jamaica vocês encontrarão basicamente 3 tipos de línguas e dialetos derivados do inglês: o inglês Jamaicano, o dialeto rastafari e o Patoá. A maioria fala misturando os três e no final acabei classificando essa metamorfose como “inglês quebrado”. Para saudações, os mais usados são:


Waa gwaan? (ua guãn) -> What’s going on? -> E aí, beleza?Weh yah seh? (ué iá sé)-> How are you doing?-> Como você está?Weh yuh deh pan? (ué iú de pãn) -> What are you doing? -> Quê você está fazendo?Wahpee? (uá pi) -> What’s happening? -> Quê tá pegando?Waddup? (uádãp)-> What’s up? -> Beleza?Yoh -> Hi -> Opa/Oba/Aô!Rispeck -> Bye -> Tchau ou para expressar admiração


Para quem quiser entender como é a pronúncia do dialeto rastafari, assistam à introdução do filme Rockers de 1979, com o rasta dando uma lição de vida. Aliás, recomendo que vocês assitam esse filme antes de viajar para lá pois retrata muito bem a cultura e o cotidiano jamaicano. Segue o início:

Montego Bay

Praça em Montego Bay/

Antes mesmo de chegar, ainda no avião, a vista ao se aproximar do aeroporto de Montego Bay já deixa o queixo caído. Lembrando que a Jamaica fica no meio do caribe e já dá para imaginar a cor do mar que banha a ilha. Para potencializar a sensação, o aeroporto fica exatamente na costa e o avião se aproxima sobre o mar, no melhor estilo do aeroporto Santos Dummont, no Rio.


Após desembarcar, troquei os dólares por dólares jamaicanos (JMD) e fui procurar um taxi para me levar até o hostel que havia reservado. Não queria sair caminhando de primeira para fora do aeroporto em busca de taxis nas ruas e, por isso, peguei um taxi/van ali próximo à saída mesmo.


No caminho já percebi uma similaridade com a vegetação do Brasil, o clima também era bem parecido: calor tropical, úmido, combinado com uma paisagem de montanhas baixas e bananeiras. O hostel que fiquei era bem interessante, provavelmente uma ex-mansão em um bairro um pouco afastado do centro, chamado Bird’s Nest.Lá conheci alguns turistas e um espanhol que me acompanharia em algumas partes da viagem, o Jorge. Compartilhei com ele o meu roteiro e ele topou fazer alguns trechos juntos.

Hostel Bird’s Nest.

No primeiro dia o dono do hostel explicou que aquele bairro, cheio de mansões, na verdade abrigava muitas casas de ex-traficantes que ganharam muito dinheiro no passado ilícito. Fomos caminhando até um mini-shopping próximo para comprar chips de celular, úteis para se comunicar pois as pessoas usam muito sms. As empresas mais utilizadas são Digicel, Lime e Flow.


Fomos para o centro com um route taxi, já acompanhados por uns nativos que vinham de outro lugar.
Abrindo um parênteses agora, a viagem foi no final de 2014, pouco após o vexame de 7 a 1 na Copa do Mundo. Os jamaicanos tem uma certa admiração pelo futebol brasileiro e estavam provavelmente mais descepcionados do que nós mesmos. Além disso, sempre quando ouviam que eu era brasileiro já soltavam um “Brasil!, my man, I love Brasil!”.
Em uma reflexão mais profunda, essa admiração pelo nosso país acaba sendo um pouco rasa, infelizmente.

Poucos amantes extrangeiros do Brasil conhecem realmente as condições daqui e essa paixão cega acaba sendo uma ajuda sentimental mútua e inconsciente entre países menos abastados economicamente, um apelo por vencer nesse mundo de algum jeito que acabou tomando forma no futebol. Não tenho nada contra o esporte porém é uma pena que entre tantos outros pontos positivos concretos apenas o futebol termine sendo o símbolo maior da vitória de nosso e outros países. Gastamos muita energia esperando que outros ganhem por nós quando na verdade temos que nos esforçar e ganhar por nós mesmos, aproveitar e vender melhor o nosso país e cultura, falar mais dos valores, de força de vontade e do desejo de vencer na vida, frente a tantas dificuldades econômicas e políticas que em parte também compartilhamos com a Jamaica.


Voltando à MoBay, quando descemos no centro tive uma sensação única.  Entre toda aquela multidão de pessoas, eramos os dois únicos brancos. Foi muito interessante pois senti ali uma energia diferente, boa e forte ao mesmo tempo. Ali eu e o Jorge eramos minoria, os peixes fora d’água e, mesmo chamando a atenção, a sensação era de estar livre de preconceitos. No Brasil a miscigenação é grande e por isso nunca tinha vivenciado algo parecido.

Eu e o Jorge na Igreja Saint James Parish.

Fomos tirar fotos no centro, seguindo pela Union Street até a pracinha principal, chamada Overton Plaza. O assédio com turistas é gigante, a cada segundo você será abordado por alguém querendo te levar para um tour, oferecendo “ganja”, só para pedir uma grana ou tirar uma foto. No final você tem que desenvolver uma certa arrogância para não ser fisgado e perder muito tempo já que no final vai acabar não aceitando o que te ofereceram. Fomos interceptados por um cara que deu uma curta aula de história e nos levou até a Igrega Saint James Parish, simples e bonita. Voltamos ao hostel e nos preparamos para sair à noite.


Ao longo do post vocês vão perceber que em muitas cidades grandes existe um restaurante-bar-balada chamado Margarittaville. Bastante turístico, esse lugar é o point mais popular nas noites jamaicanas. Contam com uma infra-estrutura invejável, tobo-águas que terminam no mar e bares molhados. Infelizmente, devido à quantidade de turistas, notei nas baladas um pouco de prostituição assessorada e turismo sexual. A economia da Jamaica se baseia fortemente no turismo, além de exportar produtos agrícolas, bauxita e rum. De qualquer forma o Margaritta é um lugar bastante interessante para sair e curtir um reggaeton, regado à Rum Punch, o coquetel mais popular da Jamaica!

Praia Doctor’s Cave.

No dia seguinte fomos à praia Doctor’s Cave, novamente no route taxi. Ela merece respeito pela cor indescritível da água, um azul claro quase branco.  Ficamos ali pela manhã e início da tarde curtindo o solzão caribenho e tomando Rum Punch, tudo na paz. Muitos turistas na praia, vindos de cruzeiros que paravam a todo momento em MoBay. Depois saímos para um bar no meião da cidade para almoçar e tomar a cerveja mais conhecida da ilha, a Red Stripe, famosa por ser servida em uma garrafinha bojuda igual de remédio.


De volta ao hostel, eu já me preparava para partir para a próxima cidade, Negril.
Peguei um taxi privado até a rodoviária. Lá você irá encontrar tanto os mini-buses quanto route taxis. Fui perguntando o preço e destinos para cada um, tentando não ser arrastado pela fome dos taxistas por turistas. No final entrei em um route taxi que já partiu cheio, rumo a Negril. Ao longo do caminho a paisagem era muito verde, a estrada era simples porém o pessoal é “relax” na direção, bem mais do que os peruanos, pelo menos.

Negril


Em Negril desci numa ladeira onde tinham outros taxis. Para ir até o hostel o taxista cobraria mais então entrei em outro taxi, depois de chorar um pouco o preço. Sempre pergunte o preço antes de partir e negocie pois a variação é grande. Finalmente cheguei no Judy’s Hostel, um hostel no meio da mata, após subir uma boa ladeira. Bastante rústico mas confortável.

Pelas ruas de Negril.

Saí caminhando para conhecer as redondezas. Desci a ladeira do Judy’s até chegar na avenida costeira, West End Road. Ali continuei caminhando sentido sul, vendo as casas, o mar e as pessoas andando no semi-acostamento de grama que seguia a estrada. Ali encontrei com muitos rastas, que puxavam conversa (sobre o Brasil, novamente), às vezes pediam um trocado, às vezes somente por curiosidade. A cultura rastafari se baseia muito no valor respeito e isso percebi claramente nas abordagens, mesmo com certo interesse e malandragem o respeito reina nos relacionamentos sociais.


Finalmente parei para almoçar em um restaurante simples mas muito saboroso. O prato feito padrão lá é um combinado de arroz com frango frito ou assado, que já vem apimentado caso você não peça o contrário.
Negril é menos movimentada em comparação à Montego Bay porém conta com muitos resorts também. Sua beleza é equivalente, tem a Coral Beach, sua praia principal, e muitas encostas no sentido sul, os “cliffs”. É bastante badalada à noite também e tivemos a sorte de estar lá justamente em um evento musical na praia, lotado de locais dançando suas danças exóticas. O evento foi na primeira noite e quando digo “tivemos” é por causa do pessoal do hostel que conheci, parceiros em Negril.

Na Coral beach.
No Ganja!

No outro dia decidi alugar uma motinha estilo lambreta para passear pela costa. Esse passeio foi muito prazeroso, fui até o final da costa, no farol de Negril, passando pelo Ricky’s Café para finalmente voltar para a Coral Beach encontrar o pessoal do hostel. Em Negril há muitas opções de restaurantes, recomendo um chamado All Natural, depois do farol. Um lugar no meio da mata com redes e namoradeiras para poder comer e relaxar.

Depois de caminhar pela praia, na frente dos resorts luxuosos, ficamos nadando e relaxando. Até umas arraias resolveram aparecer! Ao caminhar pela praia fomos abordados muitas vezes por pessoas oferencendo a erva natural. Para despistar, fale de cara que não fuma, senão vai acabar com um jamaicano insistente no seu pé. Ou, fale que está lá justamente para isso, por sua conta e risco! 🙂

Farol de Negril.
Farol de Negril ao fundo, visto do Ricky’s Cafe.

Próximo ao fim da tarde fomos até o Ricky’s Café, que é o lugar mais badalado de Negril. O Ricky’s é um bar imenso, construído ao redor de uma encosta com um poço muito profundo de água cristalina, para variar. A estrutura é muito boa, com bar, restaurante, palco para shows, além de uma das melhores vistas para o pôr do sol. Pulamos do lugar permitido dentro do poço e depois aguardamos até o início do show, iluminado pelo céu vermelho alaranjado de final de tarde.

Pulando no Ricky’s.

Para fechar a visita à Negril fomos à balada chamada Jungle, lugar onde as pessoas dançam de forma exótica, erótica e literalmente selvagem. Foi muito interessante ver os casais dançando loucamente.
Negril foi uma ótima experiência, porém, me despedia dela no próximo dia.

Treasure Beach

Esse trecho sul da viagem não é tão popular aos turistas, talvez por não ser de fácil acesso e também por não ter muitas opções de hospedagem, muito menos os grandes resorts.


Para chegar em Treasure Beach em modo econômico fiz o seguinte: peguei um route taxi em Negril que me deixou na rodoviária próxima. Ali, peguei outro route taxi até Black River. Finalmente em Black River, tive ajuda do taxista que rodou a cidade perguntando se alguém se habilitava em me levar até Treasure Beach. Finalmente conseguimos uma boa alma. O trecho até lá era somente por estradas de fazendas, de pedra ou terra. Finalmente cheguei ao Banana Cottage Hostel.

Varanda do Hostel Banana Cottage.
Vista de Treasure Beach.

O hostel era dividido em um anexo e a casa do dono. Como o anexo estava cheio e meio que reformando, o dono deixou eu ficar em um dos quartos de casal na casa dele, junto com a família. Fiquei tão a vontade com o dono que abria até a geladeira para pegar água gelada de vez em quando. A vista era ótima pois a casa ficava em uma pequena colina e tinha uma varanda aberta gigante, olhando para o mar.


A vila é muito pequena e pouco povoada, fui almoçar o prato feito ali perto no Dine’s Delite e depois caminhar pela praia. O dia estava um pouco nublado e por isso não deu para aproveitar tanto. Voltei até o bar que ficava na beira da praia chamado Frenchman’s Reef, tomei o meu Rum Punch e curti o visual calmo e relaxante. Alguns franceses passeavam por ali também. Em suma, essa praia é um lugar para ficar tranquilo, ler, refletir e descansar.


No outro dia de manhã fui novamente à praia para combinar o passeio com os barqueiros. O passeio saiu no fim da manhã, com mais 2 casais. Fomos até o famoso Pelican’s Bar, um bar ímpar feito de madeira e palha que fica literalmente no meio do mar! Os donos devem ter encontrado um banco de areia e construíram lá mesmo. A vista é sensacional e é um dos lugares do mundo que recomendo deixar sua pegada.

Pelican’s Bar

Depois o barco subiu o Black River até desembarcarmos em um pequeno vilarejo. Ali ficamos conversando e brincando de pular de corda no rio.Na volta paramos novamente no Pelican’s bar para relaxar, tomar uma Red Stripe e nadar. O fim da tarde foi muito gostoso por ali.


De volta à Treasure Beach, estava bastante cansado e fui para o hostel. Como era minha última noite ali saí para ir até o único bar de porte médio da vila, o Jack Sprat. Esse lugar deve ficar bastante cheio em alta temporada pois tem bastante espaço, um palco para shows e também boa comida. Encontrei os franceses lá e acabei jantando uma pizza com eles. “Fully Loaded” foi a pedida dos famintos.

Na manhã seguinte me despedi e agradeci a hospitalidade da família, disse que iria citá-los no post positivamente. Aqui cumpro minhas palavras e recomendo o lugar para quem passar por lá.


Agora o destino era Kingston “Town”, a capital da Jamaica. Para chegar até lá fiz outro caminho tortuoso: taxi até a cidade de Santa Cruz, que é apenas uma rua com comércio e taxis. Consegui um route taxi ali até Mandeville. Em Mandeville fiquei em um protótipo de rodoviária aguardando o primeiro mini-bus da viagem. Dali para frente entraria no cotidiano dos locais, apertado no ônibus mas feliz internamente com fone no ouvido e olhos na paisagem.

Espero que tenham gostado da experiência até agora, comentem!
Leiam também a parte 2 do relato! Fiquem com a música tema da viagem até Kingston.

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