Copacabana, Lago Titicaca e La Paz

Após nos aventurarmos pela trilha Inca até Machu Picchu, continuamos a jornada pelas terras sul americanas, dessa vez iríamos até Copacabana e o Lago Titicaca.

Copacabana e Lago Titicaca


Pegamos um ônibus em Cusco que levou-nos até Puno após uma longa viagem de 6 horas, estávamos bastante cansados da trilha mas o ônibus não era muito confortável e eu não consegui pegar no sono. Fui apreciando a paisagem das montanhas pelo caminho, ainda relembrando da caminhada de 4 dias até a cidade Inca.


Copacabana é uma cidade minúscula que fica às margens do lago Titicaca. Ela fica em território boliviano e, por isso, tivemos que fazer a entrada na Bolívia novamente após a viagem de ônibus. O guichê da fronteira era muito simples e ficamos desconfiados dos procedimentos não claros e das perguntas jogadas ao vento pelos policiais. De qualquer forma tudo deu certo e chegamos à Copacabana.

Foto no início do post: totora, barco dos Urcos.
Quando tiverem a chance de visitar a cidade, contenham suas expectativas! Não sei se o nome acaba remetendo à uma cidade de belíssimo visual, praia de águas cristalinas e um sol de tom alaranjado ao longe, no horizonte entre o céu e o mar…mas quando chegamos lá nos descepcionamos um pouco para ser sincero.


Descendo do ônibus tinham uns guichês onde conseguimos comprar a passagem até La Paz, para o final do dia. Compramos o passeio de barco também e aproveitamos para guardar as mochilas. Depois disso, tínhamos o dia todo para conhecer o que a cidade e o lago nos reservava. Fomos direto para a praia (de lago, claro), descendo uma rua de calçamento de pedra com alguns restaurantes e lojas diversas, nada que chamasse muito a atenção. Se tiverem tempo, visitem a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana e a Plaza 2 de Febrero.


Lá na praia de Copacabana, às margens do Lago Titicaca, ficamos aguardando o barco chegar em umas cadeiras de praia frente à um bar, para então embarcar em um passeio até uma das mais famosas ilhas, a Isla del Sol.Após meia hora de espera começamos a velejar, ou a “barquear”. A paisagem no lago é muito bonita, o barco vai rápido e venta bastante, para evitar o frio é recomendável levar uma jaqueta corta vento.
O Lago Titicaca é considerado o lago navegável mais alto do mundo e o segundo em extensão da América Latina. A lenda diz que o lago foi o berço da civilização inca.

Ilha no meio do Lago Titicaca.

No meio do caminho nos deparamos com um barco muito diferente, de curvas vickings, porém com um toque dos povos incas. Era o barco chamado totora, utilizado desde o princípio da navegação no lago pelo povo descendente dos incas, os Urcos, ainda habitantes dessa região. Os barcos totora são utilizados para passeios turísticos e normalmente saem de Puno.


Chegando à Isla del Sol, percebemos um caminho que atravessava todo seu território, na entrada há duas estátuas incas bem grandes saudando os visitantes. Caminhamos para o interior da ilha e foi possível ver muitos anúncios de hostels e de pousadas, ali há bastante movimento e não aparenta ser difícil arrumar um lugar para passar a noite. A Ilha se divide em lado Norte e Sul, chegamos pelo lado Sul e como tinhamos pouco tempo não atingimos o extremo Norte da Ilha. Por isso, vale ficar ao menos 2 dias para conhecer toda a extensão.

Vista da Isla del Sol.

O tempo passou rápido e já estava na hora de voltar. Para ajudar, acabamos nos perdendo por alguns minutos, já que a ilha é extensa e existem caminhos alternativos. Por fim passamos por pontos onde ficavam algumas ruínas do Templo Chinkana e pegamos o barco para retornar.Foi um passeio rápido, porém, recomendo visitar o Lago devido à sua rara beleza e à oportunidade de vivenciar o ambiente onde os povos incas iniciaram sua civilização. A Isla completa a paisagem com áreas extensas de gramado, trazendo uma sensação acolhedora para quem chega pelo lago.

La Paz e a Rota da Morte de bicicleta


Após Copacabana, pegamos o ônibus rumo à La Paz, a capital boliviana.La Paz fica relativamente próxima à Copacabana, porém, como pegamos o ônibus ao anoitecer, acabamos chegando na capital no final da noite, mortos de fome!


Pegamos um taxi na rodoviária que nos levou até o nosso último Wild Hover hostel da viagem, lembrando que ficamos nesse mesmo hostel em Arequipa e em Cusco, no Perú. O hostel em La Paz é um casarão, com um bar de respeito, vale a pena conhecer. Após o check-in, saímos para comer algo e por fim encontramos uma pizzaria próxima ao hostel, Mr. Pizza, na Calle Mercado, salvando nossas vidas pois já era bem tarde.
Na manhã do dia seguinte saímos para explorar a cidade. Na Plaza Murillo, onde está o Palácio do Governo e também a Catedral estava acontecendo um evento militar que encheu cada m² com observadores.

Catedral na Plaza Murillo.

La Paz divide-se na parte alta, El Alto, e na parte baixa que somadas formam um caldeirão em tom bege, guardado pelos montes ao redor. O centro da cidade tem muitos prédios históricos em contrapartida aos modernos. Também contrastando com os políticos e empresários de terno, que iam de um lado para o outro, víamos o povo boliviano com suas vestimentas e traços indígenas.Caminhamos muito nesse dia pois queríamos conhecer ao máximo a cidade. Indo sentido Hard Rock Café (que esteve fechado durante todos os dias, para nossa tristeza), nos deparamos com uma das atrações mais distinta e curiosa da cidade, o Mercado das Bruxas.


O mercado conta com uma imensa variedade de lojas e barracas que vendem desde artesanato até fetos de llhamas mumificados para serem utilizados como oferendas. Pesquisando um pouco após a viagem, descobri que dentre outros rituais, os fetos são utilizados quando novas casas ou negócios são construídos. Os proprietários os enterram sob as pedras angulares dos edifícios como uma oferenda à deusa andina Pachamama (Mãe Terra), acreditando que ela os protegerá e trará sorte ao negócio. Estranho né?


No mercado também é possível comprar bons itens de artesanado andino e por pouco não compramos o famoso charango, instrumento tradicional dessa região. O charango é um tipo de violão pequeno da família dos alaúdes, com dez ou mais cordas, feito originalmente da carapaça seca das costas de tatu. Hoje é encontrado comumente em madeira e seu som distinto e cheio aguça nossa audição, como neste vídeo abaixo do grupo Urubamba onde Jorge Milchberg gasta  seus dedos no instrumento.

Depois de rodar um pouco no centro perto da Plaza Mayor, fomos para os bairros do sul encontrar um lugar para almoçar. Encontramos um restaurante que servia alguns pratos de comida brasileira, excelente lugar, um casarão branco que infelizmente não me recordo do nome. Fica numa região recheada de restaurantes, entre a Av. 6 de Agosto e a Calle Sanchez Lima. Valeu para relembrar um pouco a nossa boa e velha terrinha.La Paz possui muitas opções gastronômicas, para todos os gostos e bolsos. Para quem busca refeições diferentes durante a viagem vai se surpreender com a variedade de restaurantes que a cidade oferece.


Voltamos à região do Mercado para procurar o passeio que faríamos na manhã seguinte, a lendária descida de bicicleta pela Ruta de la Muerte (Rota da morte), oficialmente Estrada Yungas. Nome bastante sugestivo para quem preza por segurança durante as viagens, né? Mas, já dizia aquele velho ditado: sem risco não há benefício! Fechamos com a empresa Altitude, uma das mais seguras. Também existe a Gravity. Naquela noite o hostel proporcionou uma festinha no bar com competição de sinuca e tudo mais, comum nos Wild Rovers. Já de manhã a van da agência batia à nossa porta, com as bikes presas no teto.

Início da descida por estrada asfaltada à 4670m. Detalhe no macacão da Altitude.

O percurso de van até o ponto inicial levou aproximadamente 1 hora, saímos de La Paz (3600m) até o topo chamado La Cumbre (4670m), em meio à montanhas nevadas em rodovia ainda asfaltada. Lá o guia explicou todas as questões de segurança, colocamos luvas, tornozeleiras, joelheiras, um macacão grosso e capacete para então começar a descida em fila indiana, seguindo pelo acostamento. Alguns ônibus e caminhões passavam por nós, mas, nesse momento, estávamos com uma margem de segurança e descemos rápido por 2 horas até chegar em um túnel.

Voltamos para a van com as bikes em cima novamente para atravessar o túnel e finalmente chegar na entrada da VERDADEIRA ROTA.Fiquem atentos aos equipamentos que a empresa de turismo oferecerá. Os nossos eram excelentes e completos porém algumas bicicletas aparentavam estar um pouco usadas demais. Todas eram “full suspension”, ou seja, suspensão no garfo e quadro, além do freio a disco.
Já não bastassem as inúmeras histórias de acidentes na rota, quando chegamos havia um movimento grande porque um guincho estava içando um caminhão que tinha caído no barranco.


Emoções iniciais a parte, começamos a descida. Essa estradinha vai serpenteando pelas montanhas e, enquanto que de um lado está a segura parede de pedra, do outro só há barrancos e penhascos, sem mureta ou barreira alguma. A estada é toda de terra e pedras, em alguns pontos também aparecem buracos e lombadas de terra para ajudar ainda mais. Muitos trechos do percurso são pista simples, passando apenas um caminhão por vez. Por isso, em muitos casos, caminhões acabam dando ré para permitir a passagem de outro veículo no sentido contrário.

Uma das curvas da rota, onde está o final do penhasco mesmo?

Você é quem determinará se a descida vai ser tranquila ou “hardcore”, pois a aventura é diretamente proporcional à velocidade. Eu desci em um nível intermediário para insano junto com uma galera da Austrália. O Vinícius foi um pouco mais responsável, pelo menos dessa vez.
Durante a descida era possível atingir uma velocidade bastante alta. Nesses momentos a adrenalina ia lá em cima e a atenção era máxima. Os ciclistas, as bicicletas e a estrada se conectavam enquanto a poeira era deixada para trás.Sugestão segura é descer controlando a velocidade de acordo com sua perícia e histórico andando de bicicleta, não tente ser o superman se você sempre andou em parques asfaltados e planos. Em alguns pontos era necessário fazer um pouco de drift, sempre mirando o lado da montanha para evitar o risco de cair para o lado do penhasco.

Pausa para o cafezinho e colocar o estômago no lugar.

A paisagem é magnífica, durante o caminho passamos por baixo de pequenas quedas d’água e essa experiência também somou ao passeio. Conseguimos parar em alguns pontos para tirar algumas fotos e por fim valeu muito a pena! Paramos oficialmente na metade da rota para tomar água e comer um lanche, depois continuamos até finalmente desembocar em outra estrada de asfalto, finalizando a rota mortal em uma altitude de 1100m, em Yolosa.

Para fechar com chave de ouro e descansar as pernas, paramos em um rancho/hotel em Coroico e almoçamos um banquete juntos com a galera. Tudo isso estava incluso no pacote.O caminho de volta ainda proporciona um pouco de aventura pois a van faz a mesma rota, dessa vez subindo, com direito à reggaeton no volume máximo. A sorte foi que poucos caminhões e carros estavam descendo e não precisamos dar ré em nenhum momento. Mesmo assim a van chegava bem perto do penhasco em alguns pontos.

Mapa do percurso desde La Paz até Coroico.

E aí,  vai encarar essa? Tempo total do passeio: 10h. Tempo descendo de bicicleta: 6h. Distância total aproximada: 61km.

Retornamos ao hotel e nos preparamos para pegar o vôo até Santa Cruz. Ficamos mais uma noite lá, conhecendo um outro café-bar bem estiloso, chamado Mento.Nos despedimos finalmente de todos os três países que proporcionaram experiências inesquecíveis durante a viagem. Considerem obrigatório nos roteiros  mochileiros, especialmente para os aventureiros de plantão.


Espero que tenham gostado deste relato, deixem seus comentários e sugestões abaixo.
Até a próxima, dessa vez na América Central. 🙂

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *